Ceará
Policial
Cocaína é tão adulterada no CE que testes dão negativo para presença da droga.
Bicarbonato de sódio, cafeina e lidocaína estão entre as substâncias misturadas à cocaína. Traficantes modificam drogas em laboratórios clandestinos e colocam vida das pessoas em risco.
O Ceará tornou-se parte da rota de
tráfico internacional de drogas por meio das organizações criminosas,
a inclusão foi registrada pelo Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no entanto, a cocaína que é
traficada no Ceará está tão adulterada que os laudos da Perícia Forense do
Estado do Ceará (Pefoce) chegam a apontar negativo para a presença da droga.
De acordo com Atlas da Violência, a
cocaína que vinha da Bolívia e do Peru chegava ao Acre, sendo transportada na
rota do Rio Solimões, chegando depois no Nordeste, em particular ao Ceará e ao
Rio Grande do Norte, para serem levadas à Europa.
Nos primeiros cinco meses de 2019, as
ações desenvolvidas pelas forças da segurança do Estado apreenderam 3,1
toneladas de drogas. O número é 138% maior do que o do mesmo período de 2018,
que apresentou 1,3 tonelada. Depois de apreendidas, amostras do entorpecente
comercializado ilegalmente no Ceará são encaminhadas à Coordenadoria de Análise
Laboratoriais Forense (Calf), que é divida em DNA, biologia, química e
toxicologia, a última, por sua vez, se subdivide nas drogas brutas e amostras
biológicas.
Já as brutas envolvem medicamentos,
cocaína, maconha, crack, anabolizantes. E as amostras biológicas podem ser de
vivos ou mortos, como sangue, vísceras e urina. As informações são da perita
legista Danielle Magalhães, que atua diretamente com as amostras
biológicas.
Segundo a Perícia Forense do Ceará,
por mês, o setor de toxicologia forense produz uma média de 1.500 laudos de
drogas brutas e 500 de amostras biológicas. Nessas análises, os peritos
constatam a adulteração desses entorpecentes. Apesar do surgimento das drogas
sinéticas, o maior número de laudos efetuados ainda são de maconha e cocaína.
Por meio dessas análises, a
perícia encontra na cocaína que chega ao Ceará o bicarbonato de sódio,
lidocaína, cafeína, amido, acetaminofeno e até lactose. No caso da cafeína, por
exemplo, os traficantes tentam simular o efeito causado pela droga. A
adulteração das substâncias é feita em laboratórios clandestinos, que
introduzem substâncias sem que ocorram testes, o efeito dessa prática, que é
feita sem base alguma de estudos científicos, é uma mistura que pode causar a
morte, conforme os peritos. As substâncias adicionadas adulteram a droga de uma
forma que há laudos que sequer a substância da cocaína é encontrada. Quando o
material não é identificado nos primeiros testes é utilizado o
aparelho Cromatógrafo Gasoso, um equipamento que permite a analise de
diversos compostos em uma amostra.
De acordo com a perita legista
Danielle Magalhães, o crack e a cocaína, por exemplo, são a mesma substância,
no entanto, a cocaína passa por processos de purificação. A cocaína é um pó que
pode ser inalado ou injetado. Enquanto a cocaína inalada demora 10 minutos para
fazer efeito, a injetada dura de três a cinco minutos. Já o crack, quando é
fumado, tem um efeito de segundos. No crack, a Perícia Forense identifica até
querosene nas misturas.
Todas as formas de uso causam
dependência e com o passar do tempo é necessário aumentar a dosagem para obter
o efeito desejado. Segundo o perito do setor de Toxicologia, Marcelo Lima
Vasconcelos, o aumento dessa dosagem é justamente o momento que o dependente
químico vai ingerir doses que podem levá-lo a uma overdose. "Nesse ajuste
de quanto vai saber quanto vai dar o barato é que acontece a overdose. É tudo
empírico, as novas drogas você troca um metil por acetil é um voo cego, pois
não há um estudo do efeito que aquilo pode causar", explica o
profissional.
No caso das drogas sintéticas,
por exemplo, os riscos do manuseio em laboratórios clandestinos ainda são
maiores. Existe uma tabela das substâncias proibidas, que faz parte de uma
portaria do Ministério da Saúde contra o tráfico ilícito de entorpecentes e
substâncias psicoativas. Para burlar a lei, os traficantes modificam conteúdo e
a droga deixa de fazer parte da tabela, sendo comercializado de forma
"legal".
Conforme a perita Danielle Magalhães,
o canabinoide sintético é um exemplo de uma maconha sintética e que possui a
substância THC concentrada e produzida em laboratórios clandestinos. A Perícia
Forense do Ceará tem um trabalho com as drogas sintéticas e realiza exames
laboratoriais específicos que identificam a presença das substâncias. “Os
canabinoides sintéticos são produzidos em laboratórios clandestinos e são mais
potentes que a Maconha”.
"O risco dessas drogas é que são
feitas de forma clandestina. Eles (traficantes) alteram a estrutura da droga
para não serem presos e eles modificam elementos dessa estrutura que não está
contemplado nessa lista (portaria). Não importando o que vai acontecer com a
pessoa. As sintéticas estão sempre mudando de fórmula", explica o perito.
Apreensão de droga
sintética
Em novembro de 2015, a Divisão de
Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD) realizou a maior apreensão de drogas
sintéticas do Norte/Nordeste, daquele período. A operação conhecida como Rave
Over II apreendeu R$ 220 mil em drogas sintéticas. A primeira edição da Rave
Over aconteceu em julho do mesmo ano.
Apreensões de 2019
As forças da segurança apreenderam
2.887,05 quilos de derivados da cannabis, 155,27 quilos de cocaína, além de
69,42 quilos de crack. Totalizando 3.111,74 quilos de drogas retiradas de
circulação.
Prisões por tráfico de
drogas
De janeiro a maio de 2019, 3.888
adultos foram presos e adolescentes apreendidos em flagrante por tráfico e
associação para o tráfico de drogas. O número é 3,8% maior do que o ano
passado, quando foram realizadas 3.746 prisões e apreensões.
Das prisões e apreensões, 812
mulheres e 3.076 são homens. Em todo o ano de 2018, foram capturados 7.727
adultos e 2.034 adolescentes envolvidos com o esse tipo de crime.
Jéssika Sisnando
(O Povo)
(Foto: Jéssika Sisnando)
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