Economia
Nacional
Preço do gás e desemprego elevam uso da lenha para cozinhar no Brasil.
Queima trará efeitos negativos para saúde e meio ambiente.
O aumento desregrado do uso de lenha nas casas
trará consequências negativas tanto para a saúde quanto para o meio ambiente do
país. Esse é um dos alertas do estudo desenvolvido pela professora Adriana
Gioda, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (CTC/PUC–Rio).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgados em maio deste ano mostraram que 14 milhões de
brasileiros usavam lenha ou carvão para cozinhar alimentos em 2018, aumento de
3 milhões de pessoas em comparação a 2016. “Aumentou muito nos últimos dois
anos”, comenta a professora.
Segundo Adriana Gioda, a expansão do uso da lenha
no preparo de alimentos no Brasil está relacionada ao aumento do preço do
botijão de gás liquefeito de petróleo (GLP). “Isso é muito visto,
principalmente nas regiões mais pobres. No Nordeste, o aumento do uso de lenha
é muito maior do que nas outras regiões”, diz. Conforme a Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (ANP), a queda de 1% no consumo de GLP,
de 2017 para 2018, significou 13,2 bilhões de litros consumidos a menos em todo
o Brasil.
Em dezembro de 2017, quando o preço do GLP na
refinaria chegava ao maior valor até o momento (R$ 24,38), a alta em relação a
julho de 2017 atingia 37%. Em maio de 2018, mesmo com queda no preço das
refinarias, o aumento acumulado desde julho de 2017 alcançava 24%, de acordo
com informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
O desemprego também contribuiu para o aumento da
lenha nas casas brasileiras. Com ele, segundo Adriana, vem um problema
adicional, que é o uso de lenha catada, não comercial, em fogões rústicos, com
queima ineficiente. “As pessoas acabam consumindo mais lenha e sendo expostas a
uma quantidade grande de partículas, o que agrava os problemas de saúde”,
explica.
Além da poluição do ar, tanto no ambiente interno
como externo, as pessoas acabam tendo doenças variadas. O primeiro efeito são
os problemas respiratórios, como asma, bronquite, em função das partículas. “No
longo prazo, isso acaba indo para a corrente sanguínea, entrando no cérebro e
afetando vários órgãos do corpo”, adverte.
Adriana Gioda destaca que nas regiões Sul e
Sudeste, também se usa lenha, mas de boa qualidade. “Rio Grande do Sul e Minas
Gerais, por exemplo, fazem uso da lenha, mas têm fogões, lareiras e
churrasqueiras de boa qualidade. Sem contar que a lenha é comercializada nessas
regiões. Você compra lenha, não pega lenha de floresta”, comenta.
A pesquisa da professora Adriana Gioda foi
publicada na revista científica Biomass and Bioenergy, usando dados disponíveis
de 2016 do IBGE e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao
Ministério de Minas e Energia.
Poluição
A pesquisadora observa que quando houve
distribuição no país do Vale Gás, ocorreu diminuição do uso de lenha. “Só que,
agora, o Vale Gás foi incorporado ao Bolsa Família, mas o programa não obriga
as pessoas a comprarem gás. Elas acabam abrindo mão de comprar gás e optando
pelo que necessitam mais”. O Vale Gás foi um programa de distribuição de renda
implementado pelo governo federal brasileiro em 2001 para atender os
beneficiários da Rede de Proteção Social, juntamente com o Bolsa Escola e o
Bolsa Alimentação.
Pesquisas internacionais têm mostrado o alto grau
de poluição causado pela queima de lenha e carvão na cozinhar e como isso é
prejudicial à saúde no ambiente doméstico. Em determinados casos, a poluição
doméstica ultrapassa limites de segurança e as emissões de combustão, que
mistura monóxido de carbono, metano e partículas variadas, como a fuligem,
contribuem diretamente para o aumento de doenças e da mortalidade.
Em termos globais, Adriana informou que quase 3
bilhões de pessoas usam lenha como principal combustível, o que equivale a 40%
da população mundial. Na África e na Ásia, chega a 95% a parcela da população
que cozinha com lenha, em fogões que não são adequados. “Muita gente morre em
decorrência dos efeitos da exposição”, ressalta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são
registradas mais de 4,3 milhões de mortes no mundo, das quais cerca de 70 mil
na América Latina e Caribe, provocadas pela poluição do ar no ambiente
doméstico, gerada pela utilização da lenha e carvão. A maioria das mortes é
prematura e afeta principalmente mulheres e crianças.
Estimativa
Com sua equipe de pesquisa, Adriana Gioda procura
dimensionar o custo do uso crescente da lenha pelas famílias, que pressiona o
Sistema Único de Saúde (SUS). Em parceria com a organização não governamental
(ONG) Instituto Perene, a professora está iniciando estudo sobre a utilização
de lenha na Bahia, um dos estados que mais consomem esse tipo de produto para
cozinhar alimentos, sobretudo na área do Recôncavo Baiano.
Com os resultados apurados, ela pretende fazer
projeções do uso da lenha em nível nacional. Conforme a professora, muitos
países têm a comprovação de que é mais barato usar outro tipo de combustível.
“A gente pretende fazer estimativas do quanto se usa de lenha, como isso está
afetando a saúde, um estudo bem grande nessa região mais exposta, para ter um
projeto-piloto e transformar isso em termos de Brasil”, diz. A primeira parte
da pesquisa deverá ficar pronta em três ou quatro anos.
Publicado em 30/06/2019 -
17:30 Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro
(Agência
Brasil)
(Foto: José
Cruz/Agência Brasil)
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