Ceará
Órgãos federais se unem para planejar recuperação do Açude Cedro.
O mais antigo reservatório público do Brasil, construído em 1906, carece de obras de restauro, tanto na estrutura física da barragem quanto em seu acervo imobiliário. Hoje (4), representantes de vários entes debatem a reforma.
O mais antigo reservatório público do Brasil,
construído a pedido do imperador D. Pedro II, em 1906, na cidade de Quixadá, no
Sertão Central, tem sofrido os efeitos da ação do tempo e da gestão deficitária
por parte do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Quem visitou o Açude Cedro nos últimos anos, pôde
constatar o abandono do acervo imobiliário da barragem. Diante do cenário, o
Ministério Púbico Federal (MPF) ingressou, em abril de 2017, com uma Ação Civil
Pública (ACP) contra o Dnocs. Dois anos se passaram e poucas medidas efetivas
foram adotadas.
A princípio, o procurador da República, Francisco
Alexandre de Paiva Forte, autor da Ação, havia solicitado limite de 120 dias
para a direção do Dnocs apresentar um plano de restauro e o prazo para
atendimento das necessidades. Mas, diante da complexidade verificada para o
restauro, dentre os quais estão ocupações irregulares e as limitações
financeiras do órgão federal, os entes envolvidos optaram por debater soluções
conjuntas, tratadas em audiências públicas.
"Resolvemos adotar essa estratégia de
construção conjunta de soluções ao percebermos a necessidade de atendimento de
uma série de fatores para a ação alcançar o seu objetivo. Simplesmente
determinar o imediato cumprimento do pedido não resolveria o problema e poderia
se prolongar em embates judiciais", explica o juiz federal titular da 23ª
Vara, Ricardo Arruda. Ainda conforme o magistrado, nos últimos anos, "os
avanços estão ocorrendo e com eles pretendemos consolidar esse plano de
revitalização".
O diretor geral do Dnocs, Ângelo José de Negreiros
Guerra, ratifica a necessidade de realizar várias ações para restauro do Açude
Cedro. A primeira delas é emergencial, cujo orçamento previsto gira em torno de
R$ 300 mil. Serão recuperados os balaustres e o acesso à passarela. Além disso,
haverá limpeza de toda a área da barragem e a restauração dos armazéns.
Como parte de um plano maior, está prevista a
revitalização de todo o patrimônio histórico. Contudo, o Dnocs explica ainda
não ter conseguido, junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional, a
liberação para a realização do projeto, avaliado em R$ 1,4 milhões.
"Estamos solicitando o descongenticiamento desses recursos para a
continuidade do trabalho", pontua Negreiros.
Seminário
Diante da necessidade de sensibilizar as
autoridades judiciais, administrativas e políticas sobre a importância dessas
obras de restauro, será realizado hoje (4), no Auditório do Edifício-Sede da
Justiça Federal no Ceará, seminário com representantes do Ministério Público
Federal, Dnocs, Iphan, Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) e
universidades públicas.
O arquiteto Romeu Duarte, ex-superintendente do
Iphan no Ceará, convidado pelo Dnocs a elaborar um plano de recuperação e
conservação do Açude Cedro, apresentará, no seminário, o Termo de Referência
das ações a serem adotadas. Elas vão da restauração dos prédios históricos no
entorno da barragem, ao controle da ocupação das suas áreas da montante e da
jusante. Ambas estão ameaçadas pelo crescimento imobiliário da cidade.
"Fui
convidado a realizar esse trabalho de consultoria, afinal estamos tratando de
um dos mais relevantes acervos do País. Serão várias etapas até a sua
conclusão, mas sem definição cronológica e nem financeira. A melhor forma de
executá-las está na união de esforços e da parceria público-privada. Outro
passo importante é definir quem ficará responsável pelo acervo. Um consórcio de
iniciativa privada é opção viável, para manter e explorar esse parque".
Na concepção do especialista, que atualmente é
professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará,
o Governo Federal não pode se omitir da responsabilidade sobre um dos mais
importantes patrimônios brasileiros sob a justificativa de não ter recursos
para mantê-lo.
"É preciso estimular a administração e
exploração desse espaço de forma sustentável, viabilizando opções econômicas
para a sua conservação. Os empresários da cidade poderiam assumir essa
responsabilidade, com visão empreendedora", ressalta Duarte.
"Cheio ou seco, o Açude Cedro sempre será uma
bela atração turística, mas é preciso elaborar um planejamento arrojado e
viável em todos os seus aspectos, envolvendo os moradores e turistas. O parque
do Inhotim é um exemplo de que iniciativas dessa natureza são viáveis",
destaca o arquiteto.
Romeu Duarte se refere ao parque natural,
localizado em Brumadinho (MG), que é considerado, segundo a administração do
Instituto, como o maior museu a céu aberto do mundo.
(Diário do Nordeste)
(Foto: CID BARBOSA)
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