Ao longo
dos últimos anos, o progresso na redução da malária estagnou – a doença não
apenas continua colocando em risco a saúde e a vida das pessoas, mas também
perpetua um ciclo vicioso de desigualdade. O alerta é da Organização Mundial da
Saúde (OMS) em razão do Dia Mundial da Malária, lembrado nesta quinta-feira
(25).
“Pessoas
que vivem em situações mais vulneráveis, incluindo gestantes, bebês, crianças
menores de cinco anos, refugiados, migrantes, pessoas deslocadas internamente e
povos indígenas continuam a ser desproporcionalmente afetadas”, analisa a
entidade. Dados da OMS indicam que, em 2022, foram contabilizados 249 milhões
de novos casos de malária, além de 608 mortes em todo o planeta.
África
Do total
de casos de malária, 94% foram identificados no continente africano. A região
responde ainda por 95% das mortes pela doença. Populações rurais que vivem em
situação de pobreza e com menos acesso à educação são as mais atingidas. Diante
do cenário, a OMS aponta que as metas estabelecidas para a redução da malária
até 2025 não serão alcançadas.
A
entidade alerta ainda para barreiras em áreas como equidade no acesso à saúde,
igualdade de gênero e direitos humanos nas estratégias de combate à malária.
“Todas as pessoas deveriam ter direito a serviços de qualidade oportunos e
acessíveis para prevenir, detectar e tratar a malária, mas essa não é uma realidade
para todos”, destaca.
Bebês
e crianças
Os dados
mostram, ainda, que bebês e crianças pequenas seguem respondendo pelo maior
número de mortes provocadas pela doença – em 2022, quatro em cada cinco mortes
relacionadas à malária no continente africano foram contabilizadas entre
crianças menores de cinco anos. Desigualdades no acesso à educação e a recursos
financeiros, segundo a OMS, agravam ainda mais o risco.
“Crianças
menores de cinco anos de famílias pobres da África subsaariana têm cinco vezes
mais chance de serem infectadas pela malária do que as de famílias mais ricas”,
alerta a entidade.
Gestantes
A OMS
salienta, ainda, que a gravidez reduz a imunidade da paciente para combater a
malária, tornando gestantes mais suscetíveis a infecções e aumentando o risco
da forma grave da doença e de morte. Desigualdades de gênero, portanto,
aumentam o risco de contrair a doença.
“Se não
for tratada, a malária, durante a gravidez, pode causar anemia grave, morte
materna, morte do feto, parto prematuro e recém-nascidos de baixo peso”, indica
a OMS.
Refugiados,
migrantes e indígenas
Por fim,
a entidade lembra que alterações climáticas e emergências humanitárias,
incluindo catástrofes naturais, além de conflitos em países onde a malária é
considerada endêmica, deslocam populações e colocam pessoas em situação de
vulnerabilidade para a doença.
“Esses
e outros grupos seguem sendo excluídos dos serviços que necessitam para
prevenir, detectar e tratar a malária, dificultando o progresso na
concretização de um mundo livre da doença”, concluiu a OMS.
Recomendações
Dentre as
recomendações listadas pela entidade para o combate à malária figuram:
– Acabar
com a discriminação e o estigma;
–
Envolver comunidades na tomada de decisões em saúde;
– Levar
cuidados de saúde para perto de onde as pessoas vivem e trabalham, por meio da
saúde primária;
– Abordar
fatores que aumentam os riscos de malária;
– Incluir
intervenções de controle da malária na cobertura universal de saúde.
Como é
a doença
De acordo
com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a malária é uma doença infecciosa,
febril, aguda e potencialmente grave. Ela é causada pelo parasita do
gênero Plasmodium, transmitido ao homem, na maioria das vezes,
pela picada de mosquito do gênero Anopheles infectado,
também conhecido como mosquito-prego.
A doença,
entretanto, também pode ser transmitida pelo compartilhamento de seringas, por
transfusão de sangue ou da mãe para o feto durante a gravidez.
Após a
picada do mosquito transmissor, o parasita permanece incubado no corpo do
indivíduo infectado por pelo menos uma semana. A seguir, surge um quadro
clínico variável, que inclui calafrios, febre alta, sudorese e dor de cabeça.
Podem ocorrer também dor muscular, taquicardia, aumento do baço e, por vezes,
delírios.
No caso
de infecção pelo protozoário P. falciparum, também existe uma
chance de se desenvolver o que se chama de malária cerebral, responsável por
cerca de 80% dos casos letais da doença. Nesse quadro, além da febre, podem
surgir dor de cabeça, ligeira rigidez na nuca, perturbações sensoriais,
desorientação, sonolência ou excitação, convulsões e vômitos. O paciente pode
chegar a entrar em coma.
O
tratamento da malária visa a eliminar o mais rapidamente possível o parasita da
corrente sanguínea do paciente e deve ser iniciado o mais rapidamente possível.
O tratamento imediato com medicamento antimalárico – até 24h após o início da
febre – é considerado fundamental para prevenir complicações.
Se o
teste de diagnóstico não estiver acessível nas primeiras duas horas de
atendimento, o tratamento com antimaláricos deve ser administrado com base no
quadro clínico e epidemiológico do paciente.
Brasil
No
Brasil, de acordo com a Fiocruz, há três espécies de parasitas Plasmodium que
afetam o ser humano: P. falciparum, P. vivax e P.
malariae.
O mais
agressivo é o P. falciparum, que se multiplica rapidamente na
corrente sanguínea, destruindo de 2% a 25% do total de hemácias (glóbulos
vermelhos) e provocando um quadro de anemia grave, além de pequenos coágulos
que podem gerar problemas como tromboses e embolias em diversos órgãos do
corpo.
Já
o P. Vivax, de modo geral, causa um tipo de malária mais branda,
que não atinge mais do que 1% das hemácias, e é raramente mortal. No entanto,
seu tratamento pode ser mais complicado, já que se aloja por mais tempo no
fígado, dificultando sua eliminação. Além disso, pode haver diminuição do
número de plaquetas, o que pode confundir a infecção com outra doença bastante
comum, a dengue, retardando o diagnóstico.
A doença
provocada pela espécie P. malariae possui quadro clínico bem
semelhante ao da malária causada pelo P. vivax. É possível que a
pessoa acometida por este parasita tenha recaídas a longo prazo, podendo
desenvolver a doença novamente anos mais tarde.
(Sinal News)
(Foto: Agência
Brasil)
Comentários
Postar um comentário