O que é intoxicação alimentar e como prevenir
Na tarde do primeiro dia do ano, o professor de matemática, Álef
Bittencourt, 26, passou por um episódio de intoxicação alimentar por
causa de uma feijoada consumida durante um almoço em família no município de Maranguape,
distante 26km de Fortaleza.
“Depois do almoço, por volta das 16h, acordei me sentindo mal, com ânsia
de vômito e dor no corpo, começando na barriga. Vomitei, pelo menos, dez vezes,
tomei um luftal porque achava que eram gases”, relata.
O
caso do professor se assemelha ao de outras 600 milhões de pessoas que adoecem
por causa de intoxicação alimentar ao redor do mundo. Deste total, 420 mil
morrem anualmente pelo agravamento das doenças, conforme dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Os principais sintomas são mal estar, vômito, diarreia, dor abdominal e
febre. Geralmente, os sinais aparecem entre seis ou 36 horas após a ingestão do
alimento contaminado.
A professora adjunta e pesquisadora do Departamento de Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Larissa Morais,
destaca que o processo de intoxicação decorre da ingestão de alimentos contendo
toxinas previamente produzidas durante o crescimento de microrganismos em
alimentos.
“Geralmente essas toxinas não possuem odor nem sabor e a intoxicação pode
ocorrer mesmo que as bactérias produtoras não estejam mais presentes no alimento,
pois muitas vezes pode-se destruir o microrganismo mas a toxina não ser
inativada”, complementa Larissa.
De acordo com o médico infectologista do Hospital Regional Vale do
Jaguaribe, Francisco José Cândido, o principal meio para
evitar intoxicação é a higienização correta dos produtos, especialmente frutas,
legumes e verduras.
“A principal prevenção é a higienização correta de mãos e alimentos, além
de evitar a ingestão de alimentos não armazenados de forma correta”, pontua.
A intoxicação alimentar também pode ser influenciada pelas altas
temperaturas. Isso porque o calor favorece a proliferação de fungos e
bactérias, acelerando, dessa forma, o processo de decomposição dos alimentos,
em especial os mal acondicionados. Portanto, Cândido destaca a importância de
“manter a conservação correta dos alimentos”.
Perecíveis são mais suscetíveis ao risco de causar intoxicação alimentar,
especialmente ovos, carnes, leite e derivados. Isso porque os micróbios de
alimentos crus- como carne bovina, aves e frutos do mar- que não são mantidos
separados podem contaminar outros se não forem armazenados adequadamente.
As principais fontes de transmissão são as carnes de boi e de porco, água
não filtrada, contato com fezes contaminadas, leite não pasteurizado ou por
contaminação cruzada (quando as moscas que levam as bactérias de um alimento
para outro).
Nesta vertente, Larissa menciona que alimentos embutidos e enlatados
também são propícios a causar intoxicação alimentar, visto que são suscetíveis
a produzir uma bactéria chamada Clostridium botulinum. Esta bactéria,
mesmo se ingerida em pouca quantidade, pode causar envenenamento grave em
poucas horas.
“Cada toxina possui características específicas, em relação a forma de
produção pelo microrganismo, possibilidade de inativação e sintomas causados
após consumo”, complementa.
O infectologista José Francisco Cândido faz um alerta sobre a compra de
alimentos próximo à data de vencimento. Ele destaca que os consumidores podem
adquirir o produto, “desde que estejam bem armazenados e sem sinais grosseiros
de contaminação ou perda da integridade”.
É recomendado, também, que os consumidores estejam atentos à temperatura
de armazenamento dos alimentos, isso porque a intoxicação alimentar pode ser
influenciada pela condição.
“A temperatura de armazenamento depende do tipo de alimento, estando
associada às suas características próprias, ao tipo de tratamento de
conservação utilizado, tipo de embalagem, entre outros”, citou Larissa.
A engenheira pontua que o consumidor deve seguir as orientações previstas
nas embalagens de cada alimento. No caso de alimentos manipulados ou
preparados, é necessário atentar-se principalmente à temperatura de preparo e
ao abuso da temperatura ambiente após o preparo.
“Algumas pessoas deixam o alimento por horas fora da geladeira,
propiciando o crescimento das bactérias e a produção de toxinas, no caso de
bactérias produtoras de toxinas”, exemplifica.
Alimentos refrigerados, conforme o infectologista José Francisco, devem
estar a -18ºC ou menos. Já aqueles mantidos em temperatura ambiente devem ser
armazenados em locais frescos e secos, geralmente entre 15ºC e 25ºC.
Entre janeiro e dezembro de 2024, a Secretaria de Saúde de Fortaleza
(SMS) registrou 126 casos de intoxicação alimentar nos 134 postos de atenção básica
do município. Ainda conforme a pasta, as unidades não registraram nenhum óbito
no período.
Tratamento
A intoxicação alimentar é tratada, geralmente, por meio da ingestão de
líquidos. O consumo evita um quadro de desidratação que pode ser causado pelos
vômitos e diarreia. É por meio da ingestão de líquido que as toxinas produzidas
pelos microrganismos são eliminadas.
Água, chás, sucos de frutas naturais, água de coco, sais de reidratação
oral ou bebidas isotônicas são alguns dos exemplos de líquidos que podem ser
consumidos diariamente pelo paciente.
É necessário também que o repouso seja acrescido à lista de tratamento da
intoxicação alimentar. Isso porque o organismo precisa poupar a energia devido
à perda de líquidos e nutrientes.
No decorrer da diminuição dos sintomas, deve-se consumir alimentos leves
e de fácil ingestão. Isso pode evitar o agravamento dos sintomas. Canja de
galinha, purê de batata, creme de legumes ou peixe cozido são alguns dos
exemplos.
Infecção x intoxicação alimentar
A divergência entre infecção e intoxicação alimentar reside na origem da
doença. A infecção é causada pelo crescimento de microrganismos no intestino
após a ingestão de um alimento que contenha células deles. Já na intoxicação
não ocorre a ingestão de microrganismos, mas sim de toxinas produzidas por eles
enquanto estavam no alimento.
“Geralmente os sintomas das intoxicações alimentares se manifestam assim
que a toxina chega ao aparelho intestinal”, explica a professora adjunta e
pesquisadora do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal
do Ceará (UFC), Larissa Morais.
Os sintomas de infecção alimentar demoram mais a aparecer, geralmente
leva horas ou dias, pois o organismo precisa de tempo para reagir à
multiplicação. Já os sinais de intoxicação alimentar levam minutos ou poucas
horas para se manifestar, isso porque as toxinas causam efeitos mais imediatos.
Para tratar da infecção, o médico pode prescrever o uso de antibióticos
ou apenas medidas de suporte, como hidratação. No caso da intoxicação, o
tratamento consiste em neutralizar ou eliminar a toxina, com suporte médico
imediato em casos graves.
(O
Povo - Online)
(Foto:
Samuel Setubal)
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