Disputa entre facções afeta funcionamento de creches e escolas em bairros de Fortaleza
Ações
ligadas a disputas entre facções criminosas têm
afetado creches e escolas municipais
localizadas no bairro Vicente Pinzon, em Fortaleza, e em áreas
próximas. Os conflitos estão ocorrendo desde julho, mas foram intensificados
nesta semana, levando à paralisação de aulas ou funcionamento irregular em
unidades de ensino, com turmas reduzidas e baixa frequência.
O
levantamento das escolas é do Sindicato União dos Trabalhadores em Educação do
Município de Fortaleza (Sindiute) e lista 16 unidades de ensino.
Com a gravidade do cenário, a instituição e representantes das escolas afetadas
reuniram-se com representantes da Secretaria Municipal de Educação (SME)
e da Guarda Municipal, na última quinta-feira (28), para cobrar providências
imediatas.
Veja
a lista das creches e escolas afetadas, segundo levantamento do Sindiute
- Escola Municipal Profa. Belarmina
Campos
- Escola Municipal Profa. Consuelo
Amora
- Escola Municipal Profa. Aida Santos
e Silva
- Escola Municipal Luis Ângelo
Pereira
- Escola Municipal Maria Alice
- Escola Municipal Professora Maria
Gondim dos Santos
- Escola Municipal Eleazar de
Carvalho
- Escola Municipal Godofredo de
Castro Filho
- Escola Municipal Maria Felicio
Lopes
- Escola Municipal de Tempo Integral
(EMTI) Vereador Alberto Gomes de Queiroz
- Escola Municipal São Vicente de
Paulo
- CEI Wilma Maria de Vasconcelos
Leopércio
- CEI Menino Maluquinho
- CEI Darcy Ribeiro
- CEI Padre José Nilson
- CEI Rachel de Queiroz
Outro
encontro está marcado para 8h desta sexta-feira (29), na Academia do Professor,
no Centro de Fortaleza, para que a Prefeitura apresente um protocolo destinado
à retomada das aulas. Estarão presentes gestores, coordenadores e docentes da
Escola Municipal Profa. Maria Gondim dos Santos, da Escola Municipal Maria
Alice, do Centro de Educação Infantil (CEI) Darcy Ribeiro e do CEI Menino
Maluquinho.
A
professora Ana Cristina Guilherme, presidente do Sindiute, explica que a
situação chegou a atrapalhar obras de manutenção nas escolas, durante as férias
dos estudantes, uma vez que os trabalhadores da construção civil não iam para o
trabalho por conta da violência. Com o início do semestre letivo, no começo de agosto, o
funcionamento das escolas ficou comprometido.
Entre os
relatos de docentes estão barulhos de tiros ouvidos durante o
horário de aula, causando interrupções e esvaziamento das salas. Em Centros de
Educação Infantil e escolas de ensino fundamental, alunos e professores têm
relatado angústia e medo constantes.
“[Está]
todo mundo em pânico. Os pais não estão mandando os alunos, os professores já
não estão mais com coragem de ir trabalhar, porque não sabem se voltam”,
relatou a professora ao Diário do Nordeste.
Nós
queremos voltar às aulas, nós precisamos voltar às aulas, interromper a
aprendizagem é muito ruim. Mas precisamos de segurança. Dentro da escola, os
alunos não conseguem se concentrar, ficam falando das situações vividas durante
a madrugada.
Durante a reunião ocorrida nesta quinta-feira, funcionários de escolas relataram ataques ocorridos próximos a escolas municipais como a unidade Profa. Maria Gondim dos Santos, a Escola Municipal Maria Alice, o CEI Darcy Ribeiro e o CEI Menino Maluquinho. Além disso, foi citado o lançamento de uma granada em uma residência daquela área.
Em
material enviado à imprensa, o Sindiute pontuou as seguintes exigências:
- Ações emergenciais do Município e
do Governo do Estado para proteger a comunidade escolar nas áreas
afetadas;
- Protocolos claros de segurança e
comunicação com gestores, docentes e famílias, com suporte psicológico às
comunidades impactadas;
- Garantia da continuidade das aulas
com segurança, preservando o direito constitucional à educação e à vida.
Em nota
enviada ao Diário do Nordeste, a Secretaria Municipal da Educação e a
Secretaria Municipal da Segurança Cidadã informaram que estabeleceram protocolo
de atuação para as unidades escolares da região do bairro Vicente Pinzón.
No
comunicado da gestão municipal, foram citadas as seguintes medidas:
- Criação de um comitê de segurança,
para aproximar a Guarda Escolar Comunitária das unidades;
- Reforço da presença de viaturas e
guardas municipais em todas as escolas da região, ampliando o efetivo já
presente pela Polícia Militar;
- Utilização de vídeomonitoramento,
rondas permanentes, contato com a comunidade escolar;
- Ampliação da relação dos
profissionais da escola com a ronda escolar da GMF.
Em
entrevista à TV Verdes Mares, o coronel Kilderlan Nascimento, diretor
de planejamento de Gestão Operacional da Polícia Militar do Ceará (PMCE),
afirmou que casos de homicídio que têm ocorrido no bairro Vicente Pinzon,
muitas vezes, têm ocorrido por brigas entre criminosos. “E aqui o terreno
favorece. [Tem] muitos becos, muitas vielas”, diz.
Ele
complementa que, na última semana, houve reunião com mais de 19 diretores de
escolas do bairro. “Estamos programando já uma reunião com a parte de Esporte e
Saúde para que nós possamos garantir a segurança não só nesse bairro como no
Papicu e no entorno”, finalizou.
Outros impactos da violência
Além da
própria aprendizagem, Ana Cristina chamou atenção para outros impactos sofridos
pelas famílias, da dificuldade para os responsáveis irem para o trabalho até a
garantia da alimentação dos estudantes sem o acesso à merenda escolar.
“Os pais
precisam trabalhar e não tem com quem deixar seus filhos. [...] Tem alunos com
insegurança alimentar que acabam complementando a alimentação na escola. Mas,
de fato, o Governo do Estado, a Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria
Municipal de Educação têm que dar condição para que a gente volte a trabalhar”,
ressalta.
Além
disso, o Sindiute alerta que esse cenário atinge as escolas perto de avaliações
como o Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) e o
Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Para a entidade, “não é
razoável submeter estudantes aos exames sem assegurar o direito de estudar em
ambiente seguro”.
(Diário do Nordeste)
(Foto:
Reprodução/Google Maps)
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