Alfabetização de adultos pode aumentar renda em até 16%, aponta estudo
A educação
de jovens e adultos (EJA) tem impacto positivo direto na renda,
ocupação e formalização no mercado de trabalho dos estudantes que participam
dessa etapa de ensino. É o que destaca um estudo inédito que mapeou qual é o
retorno econômico para aqueles jovens e adultos que não concluíram os estudos na
idade certa, mas retornaram para a escola em turmas de EJA.
A modalidade
faz parte da educação básica e possibilita àqueles que não concluíram a
escola na idade esperada retomarem os estudos e obterem o diploma de
ensino fundamental e médio, em cursos com duração mais rápida do que as classes
regulares.
A
pesquisa será lançada nesta quarta-feira (10), no Seminário Nacional
de Educação de Jovens e Adultos: 1º Ano do Pacto pela Superação do
Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos (Pacto EJA). A
investigação busca “preencher uma lacuna importante na pesquisa sobre o tema” e
oferecer subsídios para ampliar o investimento e o acesso da população a essa
etapa de ensino. A análise foi encomendada pelo Ministério da Educação,
em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (Unesco).
O que é a EJA?
Nas
últimas décadas, o país ampliou significativamente o acesso à educação formal –
a taxa de atendimento entre 6 e 14 anos, que compreende todo o ensino
fundamental, chegou a 96,7% em 2010, contra 75,5% em 1991. No
entanto, destaca o estudo, as altas taxas de reprovação e evasão persistiram.
Dessa forma, parte dos estudantes não termina os estudos na idade esperada
ou abandona a escola antes da conclusão do ensino fundamental ou
médio. Em 2023, por exemplo, 35 de cada 100 jovens brasileiros não haviam
concluído o ensino médio até os 20 anos.
Para
frequentar o EJA ensino fundamental, é preciso ter pelo menos 15 anos; para o
médio, 18 anos, e para as turmas de alfabetização (AJA), a única restrição
é a idade mínima é de 15 anos. O estudo também mapeou qual é o público
potencial para cada uma das etapas, considerando diferenças regionais, de raça
e moradia rural/urbana.
“As
gerações que frequentaram, ou deveriam ter frequentado a escola, há duas
décadas ou mais, vivenciaram um período de grande exclusão educacional e,
por isso, grande parte não concluiu a educação básica. Apesar dos avanços,
mesmo entre jovens adultos ainda há um grande contingente de pessoas que não
concluíram a educação básica na idade apropriada, e também vão compor o
público potencial da EJA e da AJA”, destaca o estudo.
Renda e mercado de trabalho
Em todas
as etapas da modalidade, desde a alfabetização até a conclusão do ensino
médio, o estudo aponta um incremento na renda dos estudantes, após
frequentarem e concluírem a EJA. Esse aumento varia de acordo com a faixa
etária.
Alfabetização
Para quem
concluiu as classes de alfabetização, por exemplo, a renda média teve um
incremento de 16,3% no grupo entre 18 e 60 anos. O impacto é ainda maior
na faixa etária entre 46 e 60 anos, superando 23%.
A AJA
também aumenta a probabilidade de ter uma ocupação formal em 7,7 pontos
percentuais (pp) e de ter uma ocupação de qualidade em 2,3 pp, considerando
todas as faixas etárias. É considerada uma ocupação de qualidade quando o
trabalhador recebe pelo menos um salário mínimo e trabalha até 44 horas
semanais.
Ensino fundamental
Para quem
concluiu os anos finais do ensino fundamental pela EJA, a renda média tem um
incremento de 4,6%. “Esse impacto é particularmente notável para o grupo de
26 a 35 anos, com um aumento de 14,9% na renda”, destaca o estudo. A
conclusão da etapa também aumenta a probabilidade de ter um trabalho
formal em 6,6 pp e uma ocupação de qualidade em 3,2 pp.
Ensino médio
No caso
da EJA ensino médio, a conclusão eleva a renda mensal em 6%, em média, para o
grupo de 18 a 60 anos em comparação com quem parou no ensino
fundamental. O maior impacto foi observado na faixa de 26 a 35 anos,
com um aumento de 10% na renda média. A probabilidade de ter uma ocupação
formal cresce 9,4 pp e uma ocupação de qualidade em 3,3 pp, com
impactos positivos em todas as faixas etárias avaliadas.
Para a
autora do estudo, Fabiana de Felicio, os resultados reforçam a
importância estratégica da educação de jovens e adultos no Brasil.
“Os
expressivos contingentes de pessoas aptas a cursar a alfabetização e as etapas
da EJA, somados aos retornos econômicos positivos identificados, indicam um
vasto potencial para a expansão dessas modalidades de ensino. Os ganhos ao
longo da vida parecem ser suficientes para justificar os custos de curto prazo
do retorno aos estudos, especialmente para os grupos de idade mais jovens”,
indica.
Ela
reforça ainda que o investimento na EJA traz, além de benefícios para
os indivíduos, impactos para o desenvolvimento social e econômico locais,
destacando a importância de secretários de educação e gestores olharem para a
modalidade de forma estratégica.
“O
aumento da renda, da formalidade e da qualidade das ocupações não só melhora a
qualidade de vida das pessoas, como também contribui para a produtividade e a
redução da pobreza e desigualdade”, destaca o estudo.
Pacto EJA
Lançado
no ano passado pelo MEC, o Pacto Nacional de Superação do
Analfabetismo e Qualificação de Jovens e Adultos prevê a criação de 3,3 milhões
de novas matrículas na EJA e a sua oferta integrada à educação profissional,
com um investimento de R$ 4 bilhões em quatro anos.
De acordo
com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua),
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há
no Brasil 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais não alfabetizadas, o
equivalente a 5,3% da população nessa faixa etária.
(Sinal
News)
(Foto: Agência
Brasil)
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