Pediatras alertam para aumento autoagressão entre adolescentes
A cada 10
minutos, pelo menos um caso de autoagressão envolvendo adolescentes com idade
entre 10 e 19 anos é registrado no Brasil, segundo dados divulgados nesta
segunda-feira (22) pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Adotar
uma postura de escuta e acolher esses adolescentes é fundamental, destaca a
SBP, que pede atenção aos sinais considerados de alerta, como tristeza
persistente, abandono de atividades que antes eram prazerosas e envolvimento
deliberado em situações de risco.
O
levantamento foi elaborado a partir do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan), que reúne registros encaminhados pela rede de atenção à
saúde e, em alguns municípios, por escolas e centros de assistência social.
O estudo,
realizado no contexto do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do
suicídio, mostra que, apenas nos últimos dois anos, a média diária de
atendimentos chegou a 137 na faixa etária especificada, incluindo casos de
violência autoprovocada e tentativas de suicídio.
Subnotificação
A
entidade alerta, entretanto, que os números não representam a totalidade de
casos, diante da grande possibilidade de subnotificação por falhas no
preenchimento ou na comunicação das ocorrências – inclusive nos atendimentos da
rede privada e em ocorrências em ambiente escolar.
A SBP
destaca que os registros do Sinan são compulsórios, ou seja, os
profissionais que, de algum modo, atendem adolescentes nesse tipo de condição
devem obrigatoriamente informar a notificação.
“Isso
significa que a realidade pode ser ainda mais preocupante do que os números
oficiais indicam”, avaliou a SBP.
Escuta e acolhimento
A
sociedade médica considera fundamental que pais, responsáveis e educadores
escutem e, sobretudo, acolham adolescentes.
O
acompanhamento com o pediatra, segundo a entidade, também tem papel central, já
que, durante as consultas, o profissional pode atuar de forma preventiva,
identificando sinais de alerta e orientando tanto o adolescente quanto a
família.
Onde buscar ajuda
Adolescentes
e seus responsáveis ou quaisquer pessoas com pensamentos e sentimentos de
querer acabar com a própria vida devem buscar acolhimento em sua rede de apoio,
como familiares, amigos, e educadores, e também em serviços de saúde. De
acordo com o Ministério da Saúde, é muito importante conversar com alguém
de confiança e não hesitar em pedir ajuda, inclusive para buscar
serviços de saúde.
Serviços
de saúde que podem ser procurados para atendimento:
- Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos
e Centros de Saúde);
- UPA 24H, SAMU 192, Pronto
Socorro; Hospitais;
- Centro de Valorização da
Vida – 188 (ligação gratuita).
O Centro
de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do
suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e
precisam conversar, sob total sigilo, por telefone
(188), e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.
Estados e regiões
Em
números absolutos, o Sudeste concentra quase metade das notificações nacionais
de autoagressões (46.918 em 2023 e 2024), puxado por São Paulo que, sozinho,
responde por 24.937 registros.
O
Nordeste aparece em segundo lugar (19.022), com destaque para Ceará (4.320) e
Pernambuco (4.234). Juntos, esses dois estados representam quase metade dos
casos da região.
O Sul
registra proporção semelhante (19.653), liderado pelo Paraná (8.417).
No
Centro-Oeste, foram 9.782 notificações, com números expressivos em Goiás
(3.428) e no Distrito Federal (3.148).
Já o
Norte, menos populoso, soma 5.303 ocorrências, sendo o Pará (1.174) e Tocantins
(1.183) os principais responsáveis.
Casos graves e mortes
Um dos
pontos de maior destaque do levantamento, segundo a SBP, é o número de casos
que, pela gravidade, ultrapassaram o atendimento médico inicial e resultaram em
internações hospitalares e óbitos.
Somente
em 2023 e 2024, notificações enviadas por unidades e serviços públicos de saúde
apontaram 3,8 mil hospitalizações de adolescentes por violência autoprovocada –
uma média de cinco internações por dia. A maior parte ocorreu entre jovens
de 15 a 19 anos (2,7 mil), seguida pelo grupo de 10 a 14 anos (1,1 mil).
Além dos
registros de autoagressão e internações, os números revelam que cerca de 1 mil
adolescentes de 10 a 19 anos perdem a vida por suicídio todos os anos no
Brasil.
Em 2023,
foram 1,1 mil óbitos; e, em 2022, 1,2 mil, de acordo com dados do Sistema de
Informação sobre Mortalidade (SIM). A faixa mais afetada é a de 15 a 19 anos,
com aproximadamente 2 mil mortes no período. Na faixa de 10 e 14 anos, foram
pouco mais de 300 óbitos.
Sinais de alerta
A
entidade listou os principais indícios de um quadro de sofrimento que pode
resultar em tentativa de suicídio:
- Tristeza ou insatisfação
persistentes;
- Abandono de atividades que antes
eram prazerosas;
- Episódios de autolesão;
- Envolvimento deliberado em
situações de risco;
- Ausência de expectativas ou planos
para o futuro.
“A
adolescência é um período de intensas mudanças, marcado por busca de
identidade, maior sensibilidade a pressões externas e vulnerabilidade
emocional”, detalhou a SBP.
A
entidade alerta ainda para o avanço de problemas como ansiedade e depressão
entre crianças e adolescentes. A saúde mental nessa faixa etária, segundo
a SBP, sofre influência de múltiplos fatores, como sobrecarga das famílias;
organização escolar voltada quase exclusivamente para o conteúdo; carência de
acompanhamento médico contínuo; e novos riscos trazidos pelo ambiente digital.
Os
principais fatores de risco para um episódio suicida, de acordo com a entidade,
são:
- Impulsividade e dificuldades
emocionais típicas da adolescência, como autoestima baixa, desesperança e
solidão;
- Facilidade de acesso a meios
letais;
- O grande estigma em relação à saúde
mental, que dificulta o pedido de ajuda.
(Sinal
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