Iguatu. Recompor a mata ciliar do Rio Jaguaribe em um
trecho urbano de 20 hectares nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará. Esse
é o objetivo do projeto 'Cílios do Jaguaribe', que foi discutido em reunião na
Secretaria de Recursos Hídricos (SRH). A ideia inicial é implantar uma unidade
piloto e um viveiro de mudas nativas para produção de 120 mil mudas nativas por
ano e plantio adensado de cinco mil pés por hectare.
A ação é pioneira e, a partir do projeto
piloto, os técnicos querem estendê-la para outros trechos da bacia do Rio
Jaguaribe, um dos mais importantes cursos de água do Ceará. A iniciativa partiu
do secretário executivo da SRH, Aderilo Alcântara, e conta com o apoio da
secretaria do Meio Ambiente do Estado. Foi formado um grupo de trabalho
específico para discutir o projeto. No próximo dia 29 de setembro, está
prevista a realização de uma reunião nesta cidade para dar continuidade às
discussões do plantio de recomposição da mata ciliar, após apresentação do
projeto, que foi elaborado pelo agrônomo e mestre em Desenvolvimento Regional
Sustentável, Paulo Ferreira Marciel, do Instituto Rio Jaguaribe.
"O Rio Jaguaribe, ao longo de seu curso,
sofre com a poluição, degradação ambiental, assoreamento e perda da sua mata
ciliar", observou Alcântara. "Não podemos apenas ficar olhando, vendo
o tempo passar, sem uma ação concreta de recuperação e proteção do mais
importante rio do Ceará".
A gerente de Recursos Humanos e Meio Ambiente
da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Margareth
Menezes, lembrou que desde 2012 há um trabalho em parceria com o Ministério do
Meio Ambiente a partir de uma área piloto para recuperação de área degrada.
"Vejo o projeto Cílios do Jaguaribe como bem interessante, que deve ser
implementado", pontuou. Para o presidente do Comitê da Sub-Bacia
Hidrográfica do Alto Jaguaribe, César Cristóvão, o projeto é pioneiro e muito
esperado pela comunidade e produtores rurais. "Sem a proteção da mata
ciliar, ocorre a cada ano perda de áreas produtivas, avanço da erosão nas
barreiras do rio", frisou.
"Esse projeto precisar sair do papel,
obter recursos e ser implantado". O autor do projeto, Maciel, mostrou a
importância histórica do Rio Jaguaribe no processo de colonização do Ceará e
exploração de atividades agropecuárias, criação de gado, plantio de arroz e de
outras culturas. As cidades surgiram às margens do rio e, ao longo do tempo,
houve degradação, despejo de dejetos, retirada de areia, da mata ciliar,
colocação de lixo e de entulhos. "O projeto prevê uma ação coletiva, em
parceria entre a Prefeitura, proprietários e produtores rurais, visando à
recuperação, a sensibilização e à educação ambiental de alunos e da população
local", frisou. "O projeto piloto será de 20 hectares em um trecho
urbano da cidade de Iguatu".
O planto inicial de manejo prevê a proporção
por espécies em uma taxa de 50% arbustivo/pioneiras; 30% arbóreo/mata primária
e 20% arbóreo/mata secundária. Haverá ainda distribuição de mudas para promover
recomposição de áreas no entorno da unidade piloto estabelecida no projeto. O
cultivo será de espécies de origem da Caatinga. "Esperamos com este
projeto iniciarmos um processo virtuoso de revitalização do Rio Jaguaribe em
todo o seu percurso, desde as suas nascentes até a foz", pontuou Maciel.
"A ideia é promover além da reposição de matas ciliares, um trabalho
permanente de educação ambiental nas comunidades ribeirinhas e extensivamente a
todo o Ceará".
A cidade de Iguatu cresceu sobre as margens
do Rio Jaguaribe. Avançou-se de tal modo sobre a bela paisagem lacustre e
fluvial que se chegou a deformá-la, reduzindo ou até extinguindo em muito os
espelhos de água originalmente existentes em nosso município. Com o passar do
tempo veio a degradação de ecossistemas.
Impactos
O crescimento urbano acelerou-se enormemente
nas últimas décadas e trouxe vários impactos relacionados com as atividades
econômicas e com o crescimento populacional desordenado sobre áreas que
deveriam ser protegidas conforme prevê a legislação ambiental pertinente e mais
incisivamente o Código Florestal Brasileiro.
Os impactos previsíveis e muitos deles já detectados
transformam e sufocam um importante manancial hídrico de todo o Estado. Ao
mesmo tempo em que as atividades mais primitivas deram lugar à construção
urbana, entra em cena a deposição de resíduos nas margens e no leito Jaguaribe,
o 'rio das onças'. "É preciso urgente intervenção pública para preservar e
recuperar o que for possível", finalizou Paulo Maciel.
DIÁRIO
DO NORDESTE
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