Geral
App defende direitos das trabalhadoras domésticas
Premiado,
o aplicativo Laudelina luta contra a servidão e o servilismo
Aplicativos podem ir além do táxi, da paquera
ou do entretenimento, como mostra o Laudelina.
Lançado oficialmente em dezembro, o app explica às
trabalhadoras domésticas seus direitos com uma linguagem simples, calcula o
salário ou recisão, lista instituições de proteção da categoria e conecta umas
às outras para uma rede de apoio. O nome é uma homenagem a Laudelina
de Campos Melo, que criou em 1936 a primeira associação de
trabalhadoras domésticas no Brasil.
No país, 96% dos TDs são mulheres, sendo que
61% delas são negras. "O trabalho doméstico tem importância na autonomia
econômica dessas mulheres, mas é muito precarizado, com pouco acesso aos
direitos formais", resume Lívia Zanatta, advogada da Themis, ONG feminista com sede em Porto Alegre,
responsável por criar o aplicativo em parceria com a Federação Nacional das
Trabalhadoras Domésticas (Fenetrad). "Somente 30% das TDs tem carteira
assinada, apesar da lei dos anos 70 que regulamenta sua obrigatoriedade."
Mas, como 86% delas possuem celular, o início da mudança pode estar no bolso.
A ONG tem
experiência com apps: em 2014, criou em
parceria com o Geledés Instituto da Mulher Negra o PLP 2.0., um aplicativo com um
botão de chamada para que mulheres com medida de proteção de urgência acionem a
polícia militar de uma forma mais rápida. Com ele, venceram o Prêmio Desafio de
Impacto Social Google daquele ano.
Desde 2013,
a Themis vem trabalhando com o sindicatos de trabalhadoras domésticas,
promovendo uma série de oficinas em oito deles. Também acompanhou a
implementação de direitos, com a Emenda Constitucional 72, de 2013, e a Lei
Complementar 150, de 2015, que regulamentaram apenas nesta década a jornada de
trabalho a oito horas diárias e o pagamento de horas extras. "Ficou claro
que não são todas as TDs que acessam os sindicatos e a informação",
explica Lívia. Havia também a constatação de que o trabalho doméstico é
diferente de outras categorias profissionais, por ser exercido de forma isolada
nas residências. "Aquela trabalhadora que está sozinha é mais vulnerável
às discriminações, ao assédio e ao descumprimento dos seus direitos."
O Laudelina foi ao ar
primeiramente no fim de 2016, quando recebeu R$ 650 mil do Prêmio Desafio de
Impacto Social Google. Até aqui, após o lançamento oficial, o número de
downloads é modesto (pouco mais de 450), mas a meta é ambiciosa. "São
quase seis milhões de trabalhadoras. Se atingirmos 5% disso, estamos
felizes", diz Lívia.
Para isso,
a equipe do projeto voltará neste ano aos sindicatos que visitaram desde o o
início do projeto, agora para promover workshops que ensinam como as
trabalhadoras baixam e utilizam o aplicativo, e podem disseminar esse
conhecimento entre seus pares. A ONG assinou termos
de cooperação com instituições da justiça, que julgam uma TD quando ela procura
o Judiciário, e planeja campanhas para também sensibilizar os empregadores
sobre essa questão. "Nós pretendemos influir uma mudança cultural da
sociedade brasileira, que ainda está muito vincula à servidão e ao
servilismo", diz a advogada.
Revista Trip/ por BRUNA BITTENCOURT
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