A falta de um horizonte que permita uma saída para a crise é o principal
combustível das discussões em torno de uma hipotética volta dos militares ao
poder político.
O raciocínio acima foi desenvolvido por um militar de alta patente e
está cada vez mais presente na vida da caserna, mas isso não significa que uma
ruptura constitucional esteja no radar: "O desespero de não vislumbrar uma
solução explica o clamor popular por uma intervenção", diz ele, que
acrescenta: "Não vejo entre os milicos nenhuma vontade nesse
sentido".
Ele entende que o estágio de hoje faz parte de um processo que teve
início com as manifestações de junho de 2013, que começaram como protesto
contra o aumento do transporte público e terminaram como um caldeirão antitudo.
A revolta contra o que "está aí" foi menos danosa para as
Forças Armadas, que, desde a entrega da Presidência da República para José Sarney,
em 1985, mantêm-se restrita às suas obrigações legais, e portanto, fora da
contaminação provocada pelo jogo pesado da política.
Soma-se a isso uma visão menos sombria entre os mais jovens da ditadura
militar. É comum vermos, sobretudo, nas redes sociais uma estranha nostalgia de
um tempo que muitos não viveram, mas onde acreditam "havia mais
segurança".
Menos corrupção e mais segurança dão o molde para que as Forças Armadas
sejam a insituição mais respeitada.
Temer sabe disso.
Tanto que foi buscar nos militares o guindaste que espera para tirar seu
governo do buraco. O general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Insitituciinal, é a cara mais vistosa dessa estratégia.
"O populismo de Temer está surfando na onda de apoio aos
militares", diz um coronel da reserva ouvido pela Coluna.
Em troca, o presidente dá afagos. Nomeou, enfim, para a pasta da Defesa
um militar, antiga reivindicação dos quartéis. Desde 1999, quando da sua
criação, o ministério só teve civis no controle. "Os três últimos
ministros eram comunistas", ressalta o mesmo militar, referindo-se a
Jaques Wagner, Aldo rebelo e Raul Jungmann, e reconhecendo o gesto de Michel
Temer.
A intervenção federal no Rio de Janeiro vai balizar a participação dos
militares nesse último ano de governo.
Se der certo, os militares terão cada vez mais espaço.
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