Inspirada nas investigações da Operação Lava Jato, da
Polícia Federal, a trama adaptou nomes de personagens e histórias reais à
trama. Contudo, há confusão entre os personagens, que foram pensados para ser
“irreconhecíveis”, conforme Marcos Prado, um dos diretores, contou ao jornal El
País.
Há ainda problemas de cronologia dos fatos apresentados
na série, o que poderia levar a uma compreensão equivocada da história. O
chamado Escândalo do Banestado, que começou em 1996, durante governo de
Fernando Henrique Cardoso, é colocado na série como iniciado no governo de
Lula, em 2003.
Frases de Sérgio Machado e Romero Jucá, por exemplo, são
atribuídas a Higino, o Lula ficcional interpretado por Arthur Kohl. “É preciso estancar
a sangria” e “construir um grande acordo nacional” são alguns dos diálogos.
Para Dilma, as mudanças são como “fake news”. “O cineasta (José Padilha) mente,
distorce e falseia. Isso é mais do que desonestidade intelectual. É próprio de
um pusilânime a serviço de uma versão que teme a verdade”, disse trecho de nota
da ex-presidente.
Elena Soarez, roteirista dos oito episódios da primeira
temporada da série, já havia admitido a dificuldade para “balancear história e
ficção” e ”botar isso tudo no formato de entretenimento”.
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Para Pedro Azevedo, crítico de cinema e curador do Cinema
do Dragão, Padilha “se esconde” atrás da liberdade ficcional para não assumir a
posição política da série. “Toda ficção é documento histórico de sua época e
nasce num contexto. É irresponsável lidar com isso num contexto político
efervescente, em ano eleitoral, distorcendo informações. A série passa a ser
tendenciosa, pode influenciar o público negativamente ao se esconder no armário
da dramaturgia”, pontua.
“Com a Lava Jato em voga e a proximidade do julgamento do
habeas corpus de Lula, a série nasce como um comentário político no qual parte
do público não vai dissociar (conteúdo deturpado e real)”, completa Pedro, que
compara o posicionamento “reacionário e conservador” de Padilha ao ideal
apregoado em Tropa de Elite (2007). “Quem conhece não pode esperar muita
diferença”, arremata.
A hashtag #CancelaNetflix começou a circular ainda na
sexta, no Twitter. Dezenas de usuários declararam boicote ao serviço de
streaming.
Respostas
Para José Padilha, porém, a polêmica em torno de atribuir
a expressão de Jucá ao personagem de Higino (Lula) “é um debate boboca”. Ao
site Observatório do Cinema, o cineasta defendeu que “a série é uma crítica ao
sistema como um todo e não a esse ou àquele político ou a qualquer grupo
partidário".
"'O Mecanismo' é uma obra-comentário. Na abertura de
cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizados, se a Dilma soubesse
ler, não estaríamos com esse problema", ironiza Padilha. A Netflix ainda
não se pronunciou sobre a polêmica.
LUCAS BRAGA/ O POVO
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