Entenda a repercussão negativa de O Mecanismo, série da Netflix




Inspirada nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, a trama adaptou nomes de personagens e histórias reais à trama. Contudo, há confusão entre os personagens, que foram pensados para ser “irreconhecíveis”, conforme Marcos Prado, um dos diretores, contou ao jornal El País.

Há ainda problemas de cronologia dos fatos apresentados na série, o que poderia levar a uma compreensão equivocada da história. O chamado Escândalo do Banestado, que começou em 1996, durante governo de Fernando Henrique Cardoso, é colocado na série como iniciado no governo de Lula, em 2003.

Frases de Sérgio Machado e Romero Jucá, por exemplo, são atribuídas a Higino, o Lula ficcional interpretado por Arthur Kohl. “É preciso estancar a sangria” e “construir um grande acordo nacional” são alguns dos diálogos. Para Dilma, as mudanças são como “fake news”. “O cineasta (José Padilha) mente, distorce e falseia. Isso é mais do que desonestidade intelectual. É próprio de um pusilânime a serviço de uma versão que teme a verdade”, disse trecho de nota da ex-presidente.

Elena Soarez, roteirista dos oito episódios da primeira temporada da série, já havia admitido a dificuldade para “balancear história e ficção” e ”botar isso tudo no formato de entretenimento”.

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Para Pedro Azevedo, crítico de cinema e curador do Cinema do Dragão, Padilha “se esconde” atrás da liberdade ficcional para não assumir a posição política da série. “Toda ficção é documento histórico de sua época e nasce num contexto. É irresponsável lidar com isso num contexto político efervescente, em ano eleitoral, distorcendo informações. A série passa a ser tendenciosa, pode influenciar o público negativamente ao se esconder no armário da dramaturgia”, pontua.

“Com a Lava Jato em voga e a proximidade do julgamento do habeas corpus de Lula, a série nasce como um comentário político no qual parte do público não vai dissociar (conteúdo deturpado e real)”, completa Pedro, que compara o posicionamento “reacionário e conservador” de Padilha ao ideal apregoado em Tropa de Elite (2007). “Quem conhece não pode esperar muita diferença”, arremata.

A hashtag #CancelaNetflix começou a circular ainda na sexta, no Twitter. Dezenas de usuários declararam boicote ao serviço de streaming.

Respostas
Para José Padilha, porém, a polêmica em torno de atribuir a expressão de Jucá ao personagem de Higino (Lula) “é um debate boboca”. Ao site Observatório do Cinema, o cineasta defendeu que “a série é uma crítica ao sistema como um todo e não a esse ou àquele político ou a qualquer grupo partidário".

"'O Mecanismo' é uma obra-comentário. Na abertura de cada capítulo está escrito que os fatos estão dramatizados, se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema", ironiza Padilha. A Netflix ainda não se pronunciou sobre a polêmica.


LUCAS BRAGA/ O POVO

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