Ceará
Saúde
Ceará tem uma das curvas mais altas de contágio de coronavírus no País.
A curva epidemiológica dita o ritmo do avanço da doença. No Ceará, há muitos casos em curto intervalo de tempo, afetando o atendimento. Especialistas avaliam que isolamento social tende a baixar esses índices nas próximas semanas.
Toda epidemia segue um fluxo que tem: um início, um pico e
uma fase final. Esta última etapa pode indicar que a doença se extinguiu ou que
manterá um número mais ou menos estável de casos. Em relação ao coronavírus,
cujo registro começou oficialmente no Brasil há um mês, a fase vivenciada é a
de crescimento da transmissão.
Essa dinâmica cria a chamada curva de contágio que, na
prática, é a relação entre o registro dos casos ao longo de determinado período
de tempo. O ideal é que, para evitar a sobrecarga do sistema de saúde, os casos
não atinjam picos em poucos dias, pois a exemplo do que ocorreu em países como
a Itália, as unidades de saúde podem ser insuficientes diante da demanda.
No Brasil, que desde o dia 26 de fevereiro registra casos de
coronavírus, essa curva de transmissão tem seguido ritmo diferente nos estados.
Um levantamento feito pelo Sistema Verdes Mares (SVM), com informações
disponíveis na plataforma Brasil.Io - um repositório de dados públicos
disponibilizados em formato acessível - revela, com base em todos os boletins
oficiais das 26 secretarias estaduais da Saúde e do Distrito Federal, que o
Ceará, até o momento, tem uma das curvas de contágio por coronavírus mais altas
do País.
Isso significa que, segundo os registros oficiais, há uma
alta velocidade de transmissão do vírus no Estado e o número de casos pode
rapidamente ultrapassar a capacidade de atendimento. São Paulo registra casos
de coronavírus oficialmente há 30 dias. Nesse intervalo, foram detectadas 862
ocorrências. Já no Rio de Janeiro, há 370 pessoas com a doença em 22 dias. O
Ceará, segundo o último boletim da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa),
confirmou 211 casos em 11 dias. Os três estados são os que mais têm pessoas com
coronavírus no País em números absolutos.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro há um número elevado de
confirmações, mas elas estão distribuídas em um espaço de tempo maior. Com
isso, a curva epidêmica é mais estável que a do Ceará que está íngreme devido à
velocidade de confirmações em poucos dias.
Se o Ceará mantiver a atual proporção de registro nas
próximas semanas, chegará ao 22º dia com mais confirmações do que o Rio de
Janeiro (segundo Estado com mais casos) chegou. Além disso, quando analisada
apenas a quantidade de casos no 12º dia em cada Estado, São Paulo tinha 16, o
Rio de Janeiro 25 e o Ceará tem 211.
Outra comparação é que o Ceará tem mais casos em 11 dias, do
que Minas Gerais, que há 20 dias confirma ocorrências. Em Minas Gerais foram 133
confirmações até ontem. O Distrito Federal também tem confirmado muitos casos
em pouco tempo. Junto ao Ceará e a Minas Gerais, o Distrito Federal tem as
curvas mais altas de transmissão até momento. Em 22 dias, 182 pessoas testaram
positivo. No Nordeste, a Bahia cujo tamanho da população supera a do Ceará e o
Estado há mais tempo contabiliza casos (17 dias), o total de confirmações, 83
até ontem, é inferior ao Ceará.
Contágio
Autoridades de Saúde enfatizam que é preciso achatar a curva
de contágio para evitar a implosão do sistema de Saúde. A virologista e
epidemiologista, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do
Ceará (UFC), Caroline Gurgel, reitera que se a curva tem pico elevado e abrupto
"não oferece prazo suficiente para que os casos mais graves e que
necessitem de internação sejam adequadamente atendidos pelo serviço de saúde
pela falta de leitos. O efeito disso é o que temos acompanhado na Itália e na
Espanha, onde os profissionais necessitam fazer escolhas na hora do atendimento".
Ela ressalta que para conter o ritmo acelerado, a única forma
concreta observada "é o isolamento social". Além disso, apesar da
quantidade de casos, Caroline avalia que os números no Ceará seguem o mesmo
ritmo de outros lugares. "Até porque, nossa realidade é a mesma: temos uma
população vulnerável, nunca teve contato com o agente antes", completa
O infectologista do Hospital São José e professor da
Universidade de Fortaleza, Keny Colares, também garante que "essa curva
dos primeiros dias acompanha a curva mais ou menos da maioria dos países".
Ele acrescenta que o que está sendo observado agora no Estado "são
fenômenos de pessoas que se infectaram há duas, três semanas. Então, as medidas
de isolamento vão impactar daqui a duas ou três semanas na frente para que
tenhamos um resultado concreto. Com o isolamento, estamos parando a transmissão
agora. Quem já se infectou continua aparecendo".
O fato de o número de confirmações no Ceará ser maior que nos
demais estados de população semelhante, segundo o médico, se deve a vários
fatores, dentre eles: "são muitas possibilidades, uma delas é que têm
locais que estão fazendo poucos testes", acrescenta. Diante da atual
situação de pandemia, Keny explica que duas frentes de trabalho devem ser
priorizadas e isto o Governo Estadual, avalia, vem fazendo: tentar evitar a
transmissão com isolamento social e garantir suporte na rede de atendimento com
o aumento dos leitos.
Atraso
"Tivemos um atraso muito grande em relação às
notificações. Se a gente pegar os primeiros casos confirmados e a apresentação
dos primeiros sintomas no Estado, a gente vê que tem um atraso de um mês. O
primeiro caso que apresentou sintoma foi no dia 15 de fevereiro e o nosso
primeiro caso confirmado foi dia 15 de março. Obviamente com essa diferença de
um mês, entre o começo da circulação e a vigilância sendo notificada, esse
vírus teve mais tempo para circular e contaminar mais pessoas", explica a
secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida.
De acordo com ela, a situação do Ceará, no momento, reflete
um "represamento dos casos que já estavam circulando, mas que não se tinha
conhecimento. Por isso que aumentou muito. Teve um boom e já tentamos rastrear
o que provocou isso". Na análise da Sesa, um dos fatores foram eventos que
aconteceram no Ceará e tiveram fonte de contaminação. "Como a gente não
tinha ciência desses casos, eles não foram bloqueados a tempo. E quando
começamos a identificar foram todos de uma vez", explica Magda.
A representante da Sesa também enfatiza que com o isolamento
social, espera-se que haja um recuo neste número. Além disso, informa que
aliado com as políticas de criação de leitos, o Governo também fará um painel
diário de acompanhamento das pessoas internadas, justamente para mensurar qual
a dimensão da assistência que tem sido demandada.
Outro fator que impacta é a demora no diagnóstico. Conforme
Magda, o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) tem condições de
fazer apenas 100 testes por dia e alguns laboratórios dos hospitais
particulares têm enviado os exames para São Paulo. A média de tempo de espera
tem sido de 5 a 6 dias, informa Magda
(Diário do Nordeste)
(Foto: Arquivo Diário do Nordeste)
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