A insuficiência
cardíaca provocou um gasto de R$ 1,4 bilhão em hospitalizações, provocando a
morte de 77.290 pessoas, no período de 2018 a 2021. Os dados fazem parte do
estudo Dimensionando os impactos da insuficiência cardíaca no ambiente
ocupacional brasileiro, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro e pelo Serviço Social da Indústria (Firjan Sesi).
A análise sobre a
enfermidade se baseou em registros do Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde (Datasus), entre 2018 e 2021, enquanto os indicadores
previdenciários da ocorrência da enfermidade sobre o trabalhador e a população
brasileira se basearam em 35,9 milhões de entradas no sistema de dados da
Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), entre 2008 e
2021. O impacto da insuficiência cardíaca na atividade laboral foi levantado
por especialistas do Centro de Inovação Sesi em Saúde Ocupacional, da Firjan
Sesi.
Segundo o
pesquisador Leon Nascimento, do Centro de Inovação Sesi em Saúde Ocupacional, é
difícil mensurar os impactos de uma doença observando apenas os aspectos
clínicos. “Quando a gente coloca em consideração os aspectos financeiros,
consegue ter uma dimensão melhor do quanto essa doença está impactando a
sociedade como um todo. Porque esse impacto é não só sobre o que se está
dispendendo financeiramente por conta de uma doença que é crônica e tratável,
dentro do contexto socioeconômico possível, mas também a gente está tirando
pessoas do ambiente de trabalho que poderiam estar contribuindo com suas
famílias e comunidades e, por conta da doença, estão se afastando”.
Em relação à rede
de saúde, foram percebidas iniciativas boas para a agregação dessas pessoas e
acompanhamento a longo prazo, Entretanto, notou-se uma dificuldade grande para
a interiorização de acesso aos serviços de saúde especializados. Isso se
explica, em parte, porque a maioria dos cardiologistas está instalada nas
capitais e estados do eixo Sul/Sudeste, enquanto as regiões Norte, Nordeste e,
inclusive, o Centro-Oeste ficam menos assistidas, disse Nascimento.
Há, segundo ele,
uma sobrecarga dos profissionais especializados nessas regiões, o que afeta os
indicadores de mortalidade, internações e custo das internações. “No fim das
contas, impacta não só a pessoa que está sobre o leito, mas o sistema de saúde,
que poderia estar atendendo outras demandas, e também os familiares, as
empresas onde os doentes trabalham e a região onde elas vivem”.
Perdas
Considerando as
avaliações de cunho financeiro, foram feitas três grandes investigações no
estudo. A primeira envolveu os custos diretos: quanto se gasta em uma
internação, o tempo que a pessoa fica internada e o custo médio para cada
internação. A segunda análise discorreu sobre a perda financeira indireta, ou
seja, durante o afastamento do trabalho, quais são os custos da empresa sem que
o funcionário esteja de fato produzindo. “É uma forma de mensurar o absenteísmo
da força de trabalho”, explicou o pesquisador. Por último, o estudo fez uma
avaliação da produtividade baseada no Produto Interno Bruto, que é a soma dos
bens e serviços produzidos no país.
Somente com
benefícios temporários (auxílios doença) pagos pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), a perda da produtividade chega a R$ 2,4 bilhões por ano.
Somando-se os valores dos benefícios temporários e os diferentes custos com uma
nova contratação ou sobrecarga de outro profissional da equipe, o custo dos
afastamentos pode chegar até R$ 6 bilhões por ano.
“A gente pegou o
PIB nacional per capita (por indivíduo) e dividiu pelo número de dias por ano.
O valor do PIB per capita diário foi multiplicado pelo tempo de afastamento
para cada beneficiário ou pessoa afastada por conta da insuficiência cardíaca”,
explicou o pesquisador.
A soma total desses
valores pode chegar a R$ 6 bilhões por ano. No período de 2018 a 2021, as
perdas podem alcançar até R$ 25 bilhões.
Somente as
internações acumulam perdas de R$ 1,4 bilhão por ano, porque são recorrentes,
longas e complexas, afirmou Nascimento destacando que foram utilizados valores
das tabelas do Sistema Único de Saúde (SUS), que não representam os valores de
mercado, porque não consideram a inflação do período analisado.
Doença crônica
A insuficiência
cardíaca é uma doença crônica e progressiva. Se identificada nos estágios
iniciais, há tratamento no SUS e o paciente pode ter qualidade de vida, o que
não ocorre quando a doença é diagnosticada em estágio avançado.
O impacto da
insuficiência cardíaca é consideravelmente maior no sistema de seguridade
social do que outras doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Segundo o
levantamento, no intervalo de 12 anos (de 2008 a 2021), a insuficiência
cardíaca provocou, em média, 152 dias de afastamento das atividades produtivas,
enquanto a hipertensão e o diabetes ocasionaram um período bem menor, de 12
dias e 9 dias, respectivamente.
A insuficiência
cardíaca atinge mais de 2 milhões de pessoas no Brasil. Ela se caracteriza por
uma progressiva perda da capacidade do coração de bombear sangue. Se não for
tratada, pode levar à incapacidade a longo prazo, além de comorbidades, altas
taxas de internações e redução global da expectativa de vida.
O estudo enfatiza,
ainda, que a insuficiência cardíaca se mantém como uma patologia grave no país,
com sobrevida de apenas 35%, após cinco anos de diagnóstico. O resultado são
elevados índices de mortalidade, gerados pela re hospitalização e má adesão à
terapêutica básica do tratamento.
Impacto sobre
salário
O estudo investigou
o impacto sobre o salário médio do trabalhador nas 27 capitais brasileiras.
Considerando que o doente tivesse que arcar mensalmente com todos os custos,
ganhando o salário médio da região, apurou-se que esse impacto varia do mínimo
de 15,84%, em São Paulo, ao máximo de 20,14%, no Ceará.
“É um valor bem
grande, tendo em vista o salário médio das pessoas de R$ 1,6 mil”, ponderou
Leon Nascimento. O cálculo leva em conta impostos que incidem diferentemente em
diferentes estados.
O impacto é menor
em São Paulo, onde a renda média do estado é maior e a carga tributária que
incide sobre medicamentos é menor. Já no Ceará, ocorre o oposto. “É uma carga
tributária alta sobre os medicamentos e a renda média estadual é menor”.
A pesquisa nacional
incluiu todas as classes de trabalhadores e abrangeu todas as regiões, estados
e municípios brasileiros. Seus resultados deverão ser apresentados, na próxima
semana, ao ministro da Saúde, em Brasília.
(Ceará Agora)
(Foto: Reprodução)
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