Livros devem ficar mais caros em 2023 com alta de 30% no preço do papel
Assim como diversas outras
matérias-primas, o papel vem sofrendo aumentos consecutivos
desde o início da pandemia. A Associação Brasileira da Indústria Gráfica
(Abigraf) calcula que os papéis de imprimir e escrever já têm alta
acumulada de 30% apenas neste ano, sendo o aumento de 67% no
acumulado desde 2020.
Com a elevação, os
preços dos livros no Ceará devem ficar mais caros no próximo ano.
Para além da alta financeira, empresas
que utilizam o material enfrentam problemas de abastecimento devido à escassez
no mercado. No Ceará, gráficas e editoras buscam alternativas para manterem os
negócios viáveis mesmo com o aumento de custos.
“Vai exigir muito mais da gente
planejamento. A pandemia tem exigido muito planejamento. Muitas gráficas
tiveram que parar as operações por não atenderem segmentos de necessidades
básicas. Se planejar, se organizar e trabalhar, porque a competitividade é
grande”, destaca.
Aumento
no preço do papel
A variação acumulada dos artigos de
papelaria nos últimos 12 meses foi de 8,86%, conforme o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O índice não calcula a variação do papel
enquanto matéria-prima.
A alta da principal matéria-prima da
indústria gráfica começou logo que foi iniciada a pandemia, por volta de abril
de 2020. Grande parte do papel de impressão e escrita utilizado no estado é
proveniente de exportação e, com o fechamento dos mercados internacionais,
houve escassez.
E, diante da valorização do câmbio,
mesmo a celulose produzida internamente acabou sendo muito mais direcionada
para a exportação por ser mais vantajoso para os produtores.
“No mercado papeleiro, nós temos
basicamente um ou dois fabricantes nacionais, que é a Suzano, praticamente um
monopólio, ela exporta muito. Além dos ajustes de matéria-prima que aumentaram
por conta da inflação no mundo todo”, cita Luciano Aragão.
Ele avalia que a guerra na Ucrânia
contribui para o aumento de preços, mesmo diante de uma situação sanitária mais
estabilizada. Segundo Aragão, as indústrias têm repassado a alta nos custos de
forma quase integral e os repasses devem continuar acontecendo.
O
preço do papel deve continuar subindo sim. É um dia de cada vez que a gente tem
vivido, deve subir e eu não sei onde para. Os aumentos estão muito além da
nossa inflação".
Luciano Aragão
Presidente do
Sindgráfica
A solução que as indústrias gráficas
têm encontrado para tornar os negócios viáveis é o planejamento, inclusive com
mudança de segmentos. O presidente do Sindgráfica avalia que este é um bom
momento para o setor, apesar dos custos altos, devido à maior demanda por
impressões diante do período eleitoral.
Mercado
editorial
As livrarias do estado sentem a alta
no papel com um desaquecimento da demanda, que torna o preço final dos livros
mais caros. Essa menor demanda, contudo, já vem desde antes da pandemia, com a
popularização de ebooks.
No
caso, os livros aqui no Ceará são nacionais, não são exatamente do Ceará. O
preço é alto também porque a indústria do livro em papel diminuiu muito a
quantidade, porque existem os ebooks, os PDFs. Uma edição que saía 3.000
exemplares hoje sai 1.000, então esse preço vai aumentar. O consumidor final e
as livrarias que ficam no prejuízo".
João Frota
Presidente do
Sindlivros
De acordo com o presidente do
Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindlivros), João
Frota, o principal aumento repassado para os consumidores foi entre 2020 e
2021, alcançando até 80% de alta.
“Esse aumento já vem há algum tempo.
Na pandemia veio a aumentar como todos os outros produtos, pela falta de
demanda, o frete também se tornou muito caro e pouco produto a venda. Aumentou
também as embalagens de delivery, a dolarização do papel, tudo isso veio cair
no valor final”, aponta.
Ele destaca que não houve um reajuste
ainda em 2022, mas que uma alta de pelo menos 15% deve ser
repassada pelo setor em 2023, como complemento do aumento que já havia ocorrido
no início da pandemia.
Produção
de embalagens no mercado interno
O presidente do Sindicato das
Indústrias de papel, papelão, celulose e embalagens em geral no Estado do Ceará
(Sindiembalagens-CE), Hélio Perdigão, explica que a produção de papel no Ceará
não é direcionada para o segmento editorial, e sim de embalagens.
Como esse setor não
tem uma dependência tão relevante da celulose, ele indica que o houve inclusive
crescimento de 4,2% em 2022 considerando o mercado nacional.
“A dependência de celulose não é tão
grande porque 70% das embalagens de papel são de papel reciclado. Então não há
um grande problema, o que precisamos é melhorar a reciclagem, coletar melhor o
lixo”, afirma.
O aumento da demanda por embalagens
com o crescimento do e-commerce trouxe uma boa recuperação para o setor. Hélio
calcula que houve um aumento de 80% no preço do papel para embalagens entre
2020 e 2022 e que já é percebida queda neste ano.
“A tendência é que continue a cair,
esperamos que no próximo ano o setor vai estar estável. Deve cair ainda alguma
coisa até o final do ano”, projeta.
(Diário do
Nordeste)
(Foto: Marília
Camelo/Arquivo)
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