Com apenas 27,5% de jovens estudando, CE tem 3ª pior taxa do Brasil em escolarização de 18 a 24 anos
Caso as
diferentes etapas da educação básica sejam
concluídas na idade adequada, espera-se que jovens adultos, entre 18 e 24 anos,
tenham finalizado o ensino médio. Mas essa não era a realidade da maioria das
pessoas do Ceará que estavam nessa faixa etária no segundo trimestre de 2024.
Naquele momento, apenas 27,5% da população dessa idade estava estudando
— e, destes, uma parte ainda não tinha ingressado no ensino superior.
Entre os
963 mil jovens de18 a 24 anos que residiam no Ceará, havia 265 mil estudantes.
Com isso, os outros 698 mil jovens adultos (cerca de 72%) estão fora
das salas de aula. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), cujo módulo anual de Educação foi divulgado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na
última sexta-feira (13). A pesquisa foi coletada no segundo trimestre de 2024.
Ao Diário
do Nordeste, a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc)
explicou que acompanha o ingresso dos estudantes da rede pública estadual no
ensino superior e destacou o aumento do índice de aprovados nos últimos anos.
Entre 2024, por exemplo, 24.403 alunos foram aprovados, sendo 136 em cursos de
Medicina.
Já a
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece),
informou que, em conformidade com o novo Plano Nacional de Educação
(PNE), anos 2025/2034, em fase de elaboração, o Ceará deve ser o primeiro
estado brasileiro a alcançar a Universalização da Educação Superior. Confirma
mais informações sobre os posicionamentos das Pastas no fim da reportagem.
No grupo
de 18 a 24 anos, a taxa de escolarização — proporção de
estudantes em relação a toda a população da mesma faixa etária — não mudou em
relação a 2023, mas representa uma redução quando comparada ao período anterior
à Covid-19. Em 2019, o Ceará tinha atingido 29,3%, a maior taxa desde 2016.
Três anos depois, em 2022, esse indicador foi de 26,1%.
O
resultado do Ceará na escolarização desse público foi o terceiro pior em todo o
Brasil. O Estado ficou à frente apenas de Alagoas (27,4%) e Mato
Grosso (26%).
No topo
da lista estavam:
- Distrito Federal: 46,5%
- Rio de Janeiro: 37,5%
- Pará e Rio Grande do Sul: 34,4%
- Tocantins: 34,1%
- Acre e Mato Grosso do Sul: 34%
Entre
2016 e 2018, o Ceará ocupava o último lugar nesse ranking
entre as 27 unidades federativas do Brasil. Em 2019, subiu para a 21ª
classificação — a melhor até a pesquisa mais recente.
Wagner Bandeira Andriola, professor titular da Universidade Federal do
Ceará (UFC) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), destaca que a escolarização entre os jovens
adultos do Ceará foi mais baixa do que a média nacional, cuja taxa de
escolarização foi de 31,2% nessa faixa etária. “Desafortunadamente, a educação
superior no Ceará não está a acompanhar os resultados proeminentes da educação
básica”, afirma.
Para o
docente, esse cenário revela a necessidade de o governo estadual implementar e
fortalecer parcerias estratégicas com Instituições Públicas de Educação
Superior (IPES) sediadas no Estado.
Políticas
públicas para garantir que os alunos de escolas públicas estaduais tenham
maiores oportunidades de ingressar nas IPES mantidas pelo Estado do Ceará transformariam
rapidamente esse cenário. É uma questão de vontade política e de aposta no
poder dessas IPES de transformar os nossos jovens em profissionais que irão
contribuir com o desenvolvimento cearense.
O Ceará também teve um resultado abaixo da média brasileira quando se analisa a proporção de estudantes de 18 a 24 anos que estão cursando o ensino superior, etapa adequada para essa idade. No contexto nacional, eles correspondiam a 27,1% dos jovens adultos. No Estado, a chamada taxa ajustada de frequência escolar líquida foi de 23,1% nesse mesmo grupo.
No
Ceará, apenas 222,4 mil dos 963 mil jovens dessa faixa etária estavam cursando
o ensino superior, enquanto cerca de 42,5 mil deles (4,4%) ainda cursavam a
educação básica.
Houve uma
redução desta taxa quando se compara com 2023 (24,3%), mas ela é maior do que
todos os demais anos anteriores, incluindo o período de 2016 a 2019, anterior à
pandemia de Covid-19.
Apesar do
avanço, esse resultado está longe dos 33% estabelecidos em um dos indicadores
monitorados pelo poder público na meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE)
e do Plano Estadual de Educação (PEE) do Ceará.
Ambos os documentos eram, inicialmente, válidos até 2024 e tiveram a vigência
prorrogada até 31 de dezembro de 2025.
Desigualdades refletidas no dados
Os
indicadores apresentados pelo IBGE na Pnad Contínua Educação 2024 também
refletem as desigualdades que existem nas sociedades cearense e brasileira,
principalmente no aspecto racial.
Com 81
mil estudantes dessa idade que se reconhecem como brancos, a escolarização
nesse grupo de jovens é 34,5%. Por outro lado, os 183 mil
estudantes pretos ou pardos representam uma escolarização de 25,3%
nesse parcela da população.
Entre
brancos, essa taxa já voltou ao patamar anterior à pandemia de Covid-19,
enquanto na população de jovens pretos ou pardos o resultado ainda não alcançou
o de 2019, apesar do crescimento registrado nos últimos anos.
Segundo
Andriola, a história da colonização do País é um dos fatores que explicam essa desigualdade mostrada pelo IBGE. A maneira
de mudar essa realidade, segundo o professor, é implementar políticas públicas
voltadas para aumentar a presença desses grupos nas instituições e “garantir a
diplomação dos indivíduos desses grupos sociais, poder-se-á minimizar essa
grave injustiça social”.
A taxa de
escolarização entre homens desse grupo ultrapassou o resultado das mulheres
pela primeira vez desde 2017. Comparando 2023 e 2024, houve aumento de 3,1
pontos percentuais (p.p.) entre eles e queda de 3,3 p.p. na população feminina.
A distância entre jovens adultos brancos e pretos ou pardos é mais acentuada
quando se analisa a proporção deles que estão cursando a etapa adequada — no
caso, o ensino superior.
Enquanto
em toda a população de 18 a 24 anos do Ceará é de 23,1%, entre pretos ou pardos
essa taxa é de 19,4%, enquanto na população branca essa taxa é de 35,3%. Na
estratificação por sexo, houve queda entre as mulheres (28,3% em 2023 e 24% em
2024) e aumento entre homens (20,5% em 2023 e 22,3% em 2024).
Outra informação trazida pela PNAD Contínua Educação 2024 é a proporção de
jovens adultos que estão estudando mas também estavam trabalhando na época da
realização da pesquisa. Em 2024, havia 98 mil estudantes de 18 a 24 anos nessa
condição, o que corresponde a 37,1% dos 265 mil do Estado.
Para essa
questão, Andriola destaca a parceria estratégica voltada ao setor produtivo.
“Somente com parcerias estratégicas e políticas públicas destinadas ao setor
produtivo poderemos mudar esse cenário e incrementar a quantidade de jovens
egressos das IPES cearenses a atuar profissionalmente nessas organizações. É
preciso ousar e inovar”, defende.
A partir
do cenário cearense mostrado pela Pesquisa, Wagner Bandeira Andriola cita
iniciativas já adotadas há décadas nos ensinos fundamental e médio para
incrementar as matrículas no nível universitário:
- Promover e implementar políticas
públicas para fortalecer as parcerias do Governo Estadual com as IPES
cearenses;
- Garantir a democratização do acesso
de grupos fragilizados social e economicamente às IPES;
- Promover a assistência estudantil a
estes grupos sociais, para garantir a permanência durante o ciclo
formativo universitário;
- Promover ações estatais para
fortalecer as áreas estratégicas para o desenvolvimento do Ceará, de
acordo com sua visão de futuro e suas vocações históricas.
O que diz o Governo do Ceará
Em nota
enviada ao Diário do Nordeste, a Secretaria da Educação do Estado do
Ceará (Seduc) destacou que a PNAD Contínua Educação utiliza metodologia
amostral, e não uma coleta censitária. De acordo com a Pasta, a educação do
Ceará passa por “transformações expressivas ao longo dos últimos anos”, fruto
de políticas públicas continuadas e de investimentos na área.
A Pasta
explica que realiza monitoramento e acompanhamento do ingresso no ensino
superior, tanto em instituições públicas quanto privadas, por meio do Sistema
Integrado de Gestão Escolar (Sige) - Módulo Enem. Por meio dele, as escolas
informam sobre a participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o
resultado obtido pelos estudantes e o ingresso no ensino superior.
No Ceará,
segundo a Seduc, 24.403 estudantes da rede pública estadual
foram aprovados no ensino superior em 2024, sendo 136 estudantes de escola
pública aprovados no curso de Medicina.
Em 2023, 22.531
estudantes da rede pública estadual ingressaram em instituições
públicas e privadas de Ensino Superior. “O índice de aprovados tem apresentado
um salto nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, o número de aprovados foi de 18.529.
O recorde anterior de aprovados tinha sido 21.217, em 2019”, informa a nota.
“O
Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Educação (Seduc), desenvolveu
diversas ações para garantir uma educação básica com equidade e foco no sucesso
dos estudantes em cada uma das etapas do ensino. Os resultados obtidos
demonstram o avanço da educação pública cearense, tornando-se referência para
todo o Brasil”, afirma a nota.
Desde
2012, o Estado desenvolve a ação “Enem Chego Junto Chego Bem”, com a
finalidade de mobilizar e preparar os estudantes da 3ª série do Ensino Médio e
da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o Exame. Ela é realizada em sete
etapas: documentação, isenção da taxa, inscrição, motivação, preparação,
#Enemvou2dias e ingresso.
As etapas
buscam assegurar o cumprimento dos requisitos para os estudantes poderem fazer
a prova, desde a documentação necessária até o transporte nos dias de prova,
passando pelas ações pedagógicas para desenvolvimento de habilidades e
competências dos estudantes.
O
comunicado também cita que trazer e manter os estudantes para a realidade do
cotidiano escolar presencialmente, assim como garantir bons desempenhos acadêmicos
e a frequência escolar, ainda são desafios. “A Secretaria tem uma equipe de
superintendentes, tanto na sede da Secretaria como nas regionais, que
acompanham e monitoram a frequência e o rendimento da rede”, diz.
Sobre as
desigualdades raciais, a Seduc reconhece os desafios relacionados ao acesso, à
permanência e à aprendizagem de estudantes, sejam indígenas ou negros. Por
isso, a Pasta instituiu, em 2022, a Secretaria Executiva de Equidade, Direitos
Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil.
A nota
também lista ações voltadas para a Política da Educação para as Relações
Étnico-Raciais, como o Selo Escola Antirracista, com valorização e premiação
das escolas que realizam boas práticas em Educação para as Relações
Étnico-Raciais. Em 2023, houve 31 escolas certificadas, número que aumentou
para 67 em 2024. Em 2025, há 374 escolas inscritas, que estão em avaliação.
Entre
outras iniciativas, também foram citadas a oferta do Curso a Distância sobre
Educação para as Relações Étnico-Raciais e a implementação da Política Nacional
de Equidade, Educação para Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar
Quilombola no Ceará.
Sobre a
Meta 12 do Plano Nacional de Educação, a Secretaria da Ciência, Tecnologia e
Educação Superior do Ceará (Secitece) comentou os três
indicadores monitorados.
Indicador 12A - Taxa bruta de matrículas (TBM) na
graduação
A
Secitece aponta tendência de crescimento contínuo entre os anos de 2016 e 2023
na proporção de jovens de 18 a 24 anos que frequentam a graduação. “Em 2016, esse
percentual era de 27,2%, subindo para 36,3% em 2023, o que representa um
aumento de 9,1 pontos percentuais ao longo do período. Esse crescimento
corresponde a uma média de 1,51 pontos percentuais por ano”, diz a nota.
“Em
termos absolutos, o número de jovens nessa faixa etária matriculados em cursos
de graduação passou de 289.279 em 2016 para 380.676 em 2023, um acréscimo de
91.397 estudantes”, completa.
Indicador 12B - Taxa líquida de escolarização (TLE)
na graduação
A Pasta
destacou a evolução de 16,8%, em 2016, para 24,3% em 2023. “Em números
absolutos, o Estado teve crescimento de 23.426 matrículas na graduação, saindo
de 153.245 matrículas em 2016 para 176.671 matrículas em 2023”.
Indicador 12C - Participação do segmento público na
expansão de matrículas de graduação
Entre
2015 e 2017, a Pasta afirma que o segmento público no Ceará registrou
crescimento, alcançando o pico de 97.010 matrículas em 2017, com participação
de 76,7% sobre o total – o maior percentual de todo o período analisado.
“A partir
de 2018, no entanto, iniciou-se um período de retração nas matrículas públicas,
acentuado pela pandemia de Covid-19 e seus impactos estruturais sobre a
expansão das IES públicas. Apesar desse cenário adverso, o segmento público
demonstra sinais claros de recuperação”, afirma.
Dados
apresentados pela Secitece mostram que, após atingir o menor patamar em 2021,
com cerca de 80,5 mil matrículas, os anos de 2022 e 2023 apontam para uma
retomada, com crescimento consecutivo para cerca de 94,2 mil e 96,4 mil matrículas,
respectivamente.
“Esse
avanço se dá em paralelo à ampliação do número de Instituições de Ensino
Superior e cursos públicos, evidenciando uma tendência positiva de
reestruturação e fortalecimento da rede. (...) Embora o setor privado mantenha
trajetória ascendente, o crescimento recente do segmento público reflete os
efeitos das ações do Governo do Ceará e do Governo Federal, voltadas à expansão
da educação superior pública”, afirma.
A
Secitece destaca ações como a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a criação
de novas instituições e expansão das IES existentes.
“A
Secitece informa que, em conformidade com o novo Plano Nacional de Educação
(PNE –Anos 2025/2034), em fase de elaboração, o Ceará deverá ser o primeiro
estado do País a alcançar a Universalização da Educação Superior, beneficiando
todos os 184 municípios com a oferta de cursos superiores”, finaliza a nota.
Sobre a pesquisa
A
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) é
divulgada pelo IBGE desde 2012 e investiga, trimestralmente, informações sobre
as características básicas de educação para as pessoas de 5 anos ou mais, no
Questionário Básico.
Desde
2016, o módulo anual de Educação passou a ser aplicado no segundo trimestre de
cada ano, ampliando as questões tratadas sobre o assunto para todas as pessoas
da amostra, além de coletar informações sobre a educação profissional.
Segundo
explica o IBGE, a pesquisa é realizada por meio de uma amostra de domicílios,
para garantir a representatividade dos resultados para os níveis geográficos em
que é produzida.
(Diário do Nordeste)
(Foto: Ismael
Soares)
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