'Que não nos vejam como uma cota, mas como potência e riqueza de diversidade', diz gestora de cultura sobre negros em cargos de chefia no Ceará.
Gestores e articuladores negros conquistam espaços de
liderança e constroem caminhos para a igualdade racial no Ceará.
O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado neste sábado
(20), reacende o debate sobre a importância do combate ao racismo na sociedade.
Mais do que ocupar espaços de poder, gestores e articuladores negros e negras
vêm construindo caminhos para a igualdade racial no Ceará. Frente a diversas
políticas públicas de Estado, eles trazem consigo o sentido da coletividade e dão
base para que outros homens e mulheres negras também ocupem estes espaços.
Para a secretária-executiva de Planejamento e Gestão Interna
da Cultura do Estado do Ceará, Mariana Braga, a sociedade não aceita ver a
pessoa negra como gestor. Ela defende que o combate ao racismo institucional
precisa ocorrer para que as vagas não fiquem limitadas ao negro tão somente
pelas cotas, mas pela força do negro.
“Eu penso que se a
sociedade como um todo não consegue nos ver como cidadãos, imagina como
gestores. Então o combate ao racismo institucional precisa acontecer de fato,
para que seja possível incluir mais pessoas negras nos cargos de gestão. Para
que não nos vejam meramente como uma cota, mas como potência, como riqueza de
diversidade”, reforça a gestora.
Mariana Braga conta que percebeu que poderia ocupar lugares
de tomada de decisão ao ver outras mulheres negras em cargos de chefia e
gestão. Filha de dois professores, ela aprendeu em casa sobre dedicação e
doação ao serviço público.
“Aqui no Ceará
entendi que poderia atuar em outras esferas, principalmente quando conheci as
professoras Vera Rodrigues (Unilab) e Zelma Madeira. Nelas eu vi claramente
duas potências que me inspiram em tantos aspectos e que me mostraram, com suas
existências, que era possível que eu contribuísse em outros espaços”, conta
Mariana Braga, que também é militante do movimento negro e da Rede de Mulheres
Negras do Ceará.
Candomblecista, a secretária faz questão de usar seu fio de
conta no ambiente de trabalho e entende que sua religião é uma dimensão
importante da sua representatividade. “Minha representatividade não esgota na
cor da minha pele. Está nos saberes que eu trago, na minha religião, na cultura
que me move, e nesse sentido, minha vida pessoal e profissional se cruzam e são
uma coisa só”, reflete a gestora.
Rompimento com a invisibilidade
Coordenadora de Políticas para Promoção da Igualdade Racial
da SPS, Martír Silva. — Foto: Sheyla Castelo Branco e Drawlio Joca - (SPS) e
Salvino Lobo (Secult)
Coordenadora de Políticas para Promoção da Igualdade Racial
da SPS, Martír Silva. — Foto: Sheyla Castelo Branco e Drawlio Joca - (SPS) e
Salvino Lobo (Secult)
A coordenadora de Políticas para Promoção da Igualdade Racial
da SPS, Martír Silva, destaca a importância da representatividade para romper
com a invisibilidade que o racismo produz para as pessoas negras.
“A
representatividade demonstra a ruptura com o isolamento de pessoas negras, com
sua falta de acesso aos espaços de produção do saber, nos espaços políticos, e
sobretudo nos espaços de encaminhamentos e de decisão, e quanto maior esta
representatividade, mais significativa a igualdade racial”, aponta.
Estudo e muita dedicação
Secretário-executivo da Administração Penitenciária do Ceará,
Rafael Beserra. — Foto: Sheyla Castelo Branco e Drawlio Joca - (SPS) e Salvino
Lobo (Secult)
Secretário-executivo da Administração Penitenciária do Ceará,
Rafael Beserra. — Foto: Sheyla Castelo Branco e Drawlio Joca - (SPS) e Salvino
Lobo (Secult)
Já o secretário-executivo da Administração Penitenciária do
Ceará, Rafael Beserra, também compartilha o esforço que fez para chegar em um
cargo de chefia. Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e
agente de Execução Penal do Distrito Federal, Rafael conta que vem de uma
família humilde, mas que sua mãe nunca o deixou desanimar. “Minha mãe é minha
maior inspiração. Ela sempre apostou e investiu na minha educação e me deu base
para que eu pudesse ser o que sou hoje”, ressalta o secretário.
“Eu acredito nas
cotas como uma dívida do Estado com a população negra e como uma política de
transição para que alcancemos uma igualdade de oportunidades, para que assim
possamos disputar cargos de emprego ou concursos público de maneira mais justa,
de modo que o privilégio de uns não tire a oportunidade de outros”, frisa.
Beserra sabe bem que seu crescimento profissional resulta de muito estudo e
dedicação e reconhece que sua posição é também uma inspiração.
“Consigo ver claramente o quanto a representatividade
importa. Ainda bem pequeno eu me sentia encorajado pela minha mãe e isso fez
muita diferença na minha formação. Imagine só se naquela época eu já pudesse
ter me espelhado em pessoas negras ocupando cargos de liderança”, reforça
Rafael Beserra.
(G1)
(Foto: Sheyla Castelo Branco e Drawlio Joca)
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