Nacional
Mais de 70% da violência sexual contra crianças ocorre dentro de casa
Campanha nacional de conscientização é realizada no mês de maio
Em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrados neste sábado (18),
pais e crianças de 0 a 14 anos participaram de uma corrida no Parque da
Cidade, em Brasília. O evento, que reuniu cerca de 800 pessoas, é uma
iniciativa da Polícia Federal, com o apoio do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos e do governo do Distrito Federal. O objetivo é
alertar a sociedade sobre esse tipo de crime e envolver a família na prevenção
e combate.
Dados do Disque 100 mostram que, só no ano
passado, foram registradas um total de 17.093 denúncias de violência sexual
contra menores de idade. A maior parte delas é de abuso sexual (13.418
casos), mas há denúncias também de exploração sexual (3.675). Só nos primeiros
meses deste ano, o governo federal registrou 4,7 mil novas denúncias. Os
números mostram que mais de 70% dos casos de abuso e exploração sexual de
crianças e adolescentes são praticados por pais, mães, padrastos ou outros
parentes das vítimas. Em mais de 70% dos registros, a violência foi
cometida na casa do abusador ou da vítima.
"Há uma cultura dos maus-tratos no país, e a
gente precisa implementar a cultura dos bons tratos às crianças e aos
adolescentes, os bons tratos em família", afirma Petrúcia de Melo
Andrade, secretária nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do
Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos. A secretária cita
o Estatuto da Criança e do Adolescente para ressaltar a responsabilidade
da família nos cuidados dos menores de idade, e pede maior envolvimento.
"É uma campanha que envolve a família.
Quando a gente resgata o Artigo 227 [do Estatuto da Criança e do Adolescente],
no topo do cuidado da criança e do adolescente, está primeiro a família,
em segundo a sociedade em geral e, por último, o Estado. Então, esse é o
momento dessa família trazer seus filhos e estar no cuidado com
eles. Momento de confraternização e alegria e, ao mesmo tempo, trazer
essas crianças para um reflexão de um crime que o Brasil não pode
suportar", acrescenta.
Ensinar as crianças
Para Adriana Faria, subsecretária de Políticas
para Crianças e Adolescentes da Secretaria de Justiça do DF, as crianças, em
boa parte dos casos, não têm noção do que é o abuso sexual. "Aquilo
incomoda, ela geralmente sabe que aquilo é errado, mas não necessariamente que
é um abuso sexual que precisa ser denunciado. A gente precisa criar mecanismos
para que elas conheçam o próprio corpo, saibam proteger o próprio corpo e
saibam identificar que tem algo de errado e como elas podem buscar ajuda,
justamente porque muitas vezes acontece dentro de casa e não dá para procurar
nem pai, nem mãe. Tem que saber procurador um professor na escola, ou um conselho
tutelar", explica.
A autônoma Daíza Vaz Cortella participou da
corrida com a filha Elisa, de 5 anos. Ela também concorda que é preciso educar
as próprias crianças para se prevenirem da violência, e os pais não podem ter
vergonha de abordar a educação sexual com os próprios filhos.
"Nós, pais, temos sim que conversar com
nossas crianças e explicar sobre os perigos, esclarecer sobre as partes
íntimas, como identificar um abuso. Não podemos ter vergonha de educar as
crianças com essa consciência", diz.
Ao lado do filho Pedro, de 7 anos, Maria de
Fátima Sampaio era só sorrisos e um pouco de cansaço após correr cerca de 250
metros empurrando a cadeira de rodas da criança, que tem paralisia cerebral.
Para ela, crianças com deficiência são ainda vulneráveis a situações de abuso e
violência sexual e, nesse sentido, a conscientização do núcleo familiar e a
capacitação de profissionais da educação e conselhos tutelares é crucial para o
enfrentamento do problema.
"As crianças especiais, muitas vezes, ficam
mais vulneráveis porque não têm os mesmos mecanismos de defesa que outras. Por
isso, o envolvimento da família, dos pais, da escola e Poder Público é
fundamental", afirma.
Publicado em 18/05/2019
- 17:52 Por Pedro Rafael Vilela - Repórter da Agência Brasil Brasília
(Agência
Brasil)
(Foto
- Valter Campanato/Agência Brasil)
Notícia mais recente
Próxima notícia
Deixe seu comentário
Postar um comentário